Um grande hino. "Mostrar honra", tendo Deus como escudo, sobretudo quando há um adversário que propõe a tirania (espiritual e temporal), eis um grande lema.
quarta-feira, julho 30, 2008
domingo, julho 27, 2008
Carta ao papa Pio IX (Charles Hodge)
A Pio IX, Bispo de Roma.
Pela vossa encíclica, datada de 1869, convidais os protestantes a enviarem delegados para o Concílio convocado a reunir-se em Roma durante o mês de Dezembro do corrente ano. Esta carta foi levada ao conhecimento de duas Assembleias Gerais da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América. Estas Assembleias representam cerca de cinco mil ministros e um número bem maior de congregações cristãs.
Crendo, como cremos, que é a vontade de Cristo que a Sua Igreja na terra deva ser unida, e reconhecendo que temos o dever de fazer coerentemente tudo o que pudermos para promover a caridade e a comunhão cristã, julgamos correcto apresentar resumidamente as razões que nos proíbem de participar nas deliberações do Concílio vindouro.
Não é que tenhamos rejeitado algum artigo da fé católica. Não somos heréticos. Recebemos sinceramente todas as doutrinas contidas no Símbolo conhecido como Credo dos Apóstolos.
Consideramos todas as decisões doutrinárias dos primeiros seis concílios ecuménicos como consistentes com a Palavra de Deus, e por causa disso os recebemos como expressão da nossa fé. Cremos, portanto, na doutrina da Trindade e da pessoa de Cristo conforme expressas nos símbolos adoptados pelo Concílio de Niceia (321 A.D.), nos do Concílio de Constantinopla (381 A.D.) e, mais inteiramente, nos do Concílio de Calcedónia (451 A.D.). Cremos que há três pessoas na Divindade, o Pai, o Filho, e o Espírito Santo; e que estes três são de uma mesma substância e iguais em poder e glória.
Cremos que o Eterno Filho de Deus se tornou homem ao tomar sobre si um corpo verdadeiro e alma racional, e assim foi e continua a ser igualmente Deus e homem, em duas naturezas distintas numa pessoa para todo o sempre. Cremos que o nosso adorável Senhor e Salvador Jesus Cristo é o profeta que deveria vir ao mundo, em cujos ensinamentos devemos crer e em cujas promessas confiar. Ele é o Sumo Sacerdote de quem a infinita satisfação meritória à justiça divina, e intercessão sempre eficaz, é a única base para a aceitação e justificação do pecador diante de Deus.
Reconhecemo-Lo como nosso Senhor não apenas por sermos Suas criaturas, mas por termos sido comprados pelo Seu sangue. À Sua autoridade devemos submeter-nos, em Seu cuidado confiar, e todas as criaturas no céu e na terra devem ser consagradas ao Seu serviço.
Recebemos todas aquelas doutrinas relativas ao pecado, à graça e à predestinação — conhecidas como Agostinianas — que foram sancionadas não apenas pelo Concílio de Cartago e por outros Sínodos provinciais, mas também pelo Concílio Ecuménico de Éfeso (431 AD.) e por Zózimo, bispo de Roma.
Não podemos, por essa causa, ser acusados de heréticos sem que, conjuntamente, se condene toda a antiga Igreja.
Tão-pouco somos cismáticos. Afectuosamente reconhecemos como membros da Igreja visível de Cristo na terra todos aqueles que, juntamente com seus filhos, professam a verdadeira religião. Não só estamos dispostos, mas também ardentemente desejosos manter comunhão cristã com eles, desde que não exijam, como condição desta comunhão, que professemos doutrinas que a Palavra de Deus condena, ou que devamos fazer o que ela proíbe. Em todo caso, qualquer igreja que estabelece tais termos antibíblicos para a comunhão, o erro e a falta está nesta igreja e não em nós.
Embora não declinemos o vosso convite por sermos heréticos ou cismáticos, estamos, no entanto, impedidos de aceitá-lo porque adoptamos, com uma confiança cada vez maior, os princípios pelos quais os nossos pais foram excomungados e amaldiçoados pelo Concílio de Trento, que representou, e ainda representa, a Igreja à qual presidis.
O mais importante desses princípios é que a Palavra de Deus, contida nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, é a única e infalível regra de fé e de prática.
O Concílio de Trento, contudo, declarou anátema todo aquele que não recebe o ensinamento da tradição “pari pietatis affectu” (com igual sentimento piedoso) que as próprias Escrituras. Não podemos fazer isso sem incorrer na condenação que nosso Senhor pronunciou contra os fariseus que invalidavam a Palavra de Deus pelas suas tradições (Mt. 15:6). Em segundo lugar, o direito de julgamento individual. Quando abrimos as Escrituras, descobrimos que elas são voltadas para as pessoas. Elas falam connosco. Somos ordenados a buscá-las (Jo 5:39), a crer no que elas ensinam.
Somos pessoalmente responsáveis pela nossa fé. O apóstolo ordena-nos a denunciar como anátema apóstolo ou anjo descido do céu que ensine qualquer coisa contrária à Palavra de Deus divinamente autenticada (Gal.1:8). Ele tornou-nos juízes, colocando em nossas mãos o preceito do julgamento, e fez-nos responsáveis pelos nossos julgamentos.
Ainda mais, encontramos que o ensinamento do Espírito Santo foi prometido por Cristo não apenas ao clero, muito menos a uma específica ordem clerical, mas a todos os crentes. Está escrito: “E serão todos ensinados por Deus”. O apóstolo João diz aos crentes: E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento [...]. Quanto a vós outros, a unção que dEle recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, com a Sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nEle, como também ela vos ensinou” (1 João 2:20,27).
Este ensinamento do Espírito autentica a si mesmo, como o mesmo apóstolo nos ensina, quando diz: “Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho” (1 João 5:10).
Não vos escrevi porque não saibais a verdade: antes porque a sabeis e porque “mentira alguma jamais procede da verdade” (1 João 2:21). O julgamento particular é, portanto, não apenas um direito, mas um dever, do qual homem algum pode isentar-se a si mesmo, ou ser desobrigado por outros.
Cremos, em terceiro lugar, no sacerdócio universal dos crentes, isto é, que todos os crentes têm, através de Cristo, acesso ao Pai em um Espírito (Ef 2:18); para que possamos acercar-nos com ousadia ao trono da graça, para alcançarmos misericórdia e encontrar graça para socorro em tempo de necessidade (Hb.4:16): “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela Sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado da má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hb. 10:19-22).
Admitir, portanto, o sacerdócio do clero, como intervenção necessária para nos assegurar a remissão do pecado e outros benefícios da redenção de Cristo, é renunciar ao sacerdócio de nosso Senhor, ou à suficiência deste sacerdócio em assegurar-nos a reconciliação com Deus. Em quarto lugar, negamos a perpetuidade do apostolado. Assim como nenhum homem pode ser apóstolo sem o Espírito de profecia, também nenhum homem pode ser apóstolo sem os dons de apóstolo. Tais dons, como aprendemos pela Escritura, eram o conhecimento plenário da verdade derivada de Cristo pela revelação imediata (Gal.1:12) e a infalibilidade pessoal como mestres e legisladores. Paulo ensina-nos quais eram os selos do apostolado quando diz aos Coríntios: “Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos” (2Cor. 12:12). Não podemos submeter-nos a prelados que reivindicam ser apóstolos, e que requerem a mesma confiança em seus ensinamentos, e a mesma submissão à sua autoridade, como a que é devida aos inspirados mensageiros de Cristo. Isto seria conceder a homens falíveis a submissão devida somente a Deus ou aos seus mensageiros divinamente autenticados e infalíveis.
Muito menos podemos reconhecer o Bispo de Roma como o vigário de Cristo sobre a terra, coberto da autoridade que Cristo exerceu sobre a Igreja e o mundo quando aqui esteve encarnado.
É patente que ninguém que não tenha os atributos de Cristo pode ser o vigário de Cristo. Considerar o Bispo de Roma como vigário de Cristo é, portanto, reconhecê-lo virtualmente como divino. Devemos permanecer firmes na liberdade com que Cristo nos libertou. Não podemos ser despojados da nossa salvação por colocarmos um homem no lugar de Deus; concedendo a alguém semelhante a nós o controle interior e exterior de nossa vida, o que é devido unicamente Àquele em quem estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento, e em quem habita a plenitude da Divindade.
Poder-se-iam assinalar outras razões, igualmente compulsórias, pelas quais não podemos, de boa consciência, estar representados no Concílio proposto. Entretanto, como o Concilio de Trento, cujos cânones ainda vigoram, declarou maldito todo aquele que crê nos princípios enumerados acima, nada mais é necessário para demonstrar qual a razão por que declinamos o vosso convite.
Conquanto não possamos voltar à comunhão com a Igreja de Roma, desejamos viver em caridade com todos os homens. Amamos todos aqueles que sinceramente amam a nosso Senhor Jesus Cristo. Consideramos como irmãos em Cristo todos aqueles que O adoram, O amam e Lhe obedecem como seu Deus e Salvador; e esperamos estar juntos no Céu com todo aquele que juntamente connosco na terra declara:
“Àquele que nos ama e, pelo Seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o Seu Deus e Pai, a Ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Ámen” (Ap.1:6).
Assinado em nome das duas Assembleias Gerais da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América,
Charles Hodge. [1869]
Make Me A Channel Of Your Peace
Versão de Sebastian Temple do hino de São Francisco de Assis (Abadia de Westminster nas exéquias de Diana, princesa de Gales).
quinta-feira, julho 24, 2008
24 de Julho: comemorar a vitória!
Faz hoje 175 anos que entrou em Lisboa, à frente do exército constitucional, António José de Sousa Manuel de Menezes Severim de Noronha (1792-1860), 1.º duque da Terceira. Estava consumada a libertação da cidade do usurpador jugo absolutista e ficava praticamente decidido o desfecho da guerra da restauração que se arrastava desde o ano anterior. O Porto estava ainda cercado pelos absolutistas, mas a entrada do duque da Terceira na capital enfraquecia a pressão sobre a Cidade Invicta e desmoralizaria irremediavelmente o adversário. Há 175 anos, em Lisboa, davam-se vivas à liberdade, à Carta e à legitimidade restaurada de D. Maria II. D. Pedro podia, enfim, considerar a sua missão (quase) cumprida.
segunda-feira, julho 21, 2008
Poder moderador (I): a liquidação do fascismo há 65 anos
Nas suas memórias, o rei Vítor Emanuel III de Itália defendeu que o fascismo lhe foi imposto como um facto consumado e que preferiu, em vez de pôr em risco a dinastia, aceitá-lo para o moderar. Essa acção moderadora, que historiadores equilibrados como Renzo de Felice puderam corroborar e estenderam à Igreja Católica, parece inatacável. Mas essa função moderadora da instituição dinástica estava ainda reservada para uma necessidade não menos importante: a liquidação do regime fascista logo que uma conjuntura externa favorável o permitisse; para tanto, a monarquia foi a instituição certa para agir com a necessária agilidade: partindo da sua legitimidade própria (histórica, simbólica, constitucional), o monarca pôde fazer o que um dirigente partidário (fascista ou oposicionista) não poderia – agir em nome de valores verdadeiramente gerais, garantir a fidelidade de sectores estratégicos das forças armadas e da administração e neutralizar os agentes do sequestro partidário do Estado.
Consta que, a pedido do rei, personalidades próximas da família real já haviam iniciado contactos secretos com os governos aliados, assim sondados sobre o apoio a uma reviravolta política interna que fizesse a Itália mudar de campo na guerra. Na Primavera de 1943, o rei Vítor Emanuel III começou a manifestar a intenção de afastar Mussolini do poder e de negociar um armistício com os Aliados. O desembarque aliado no Sul facilitou a tomada de posição do rei: em 23 de Julho desse ano, afastou Mussolini do Governo e incumbiu os homens da sua confiança de negociarem com o comandante das forças norte-americanas (general Eisenhower), a rendição italiana, surpreendendo os dirigentes fascistas. Vítor Emanuel III nomeou um novo governo e abdicou dos títulos de rei da Albânia e de imperador da Etiópia, “entregando-os” aos seus legítimos detentores destronados por invasões italianas nos anos 30. De seguida, o rei deixou Roma, para organizar a resistência à invasão nazi, inevitável perante estas decisões e acolhida pelos fascistas que entretanto proclamaram uma República Social Italiana, ideologicamente pura e livre das peias da dinastia e do catolicismo.
Em 10 de Setembro, o rei dirigiu-se aos Italianos pela rádio: «Para bem da nossa pátria [...] e para evitar mais sofrimento, autorizei o pedido de um armistício». A Itália abandonara o Eixo: quase dois anos antes da vitória definitiva dos Aliados e da oposição antifascista em território italiano, a liquidação do fascismo estava consumada pela acção do rei.
terça-feira, julho 15, 2008
Panque-roque
Gostei bastante do que ouvi ontem na FNAC do Colombo, mas, no meio dos cumprimentos, esqueci-me de dizer o obvio ao Tiago Guillul (hebraico para Cavaco): grandes canções!
segunda-feira, julho 14, 2008
Depressão e inflação ou como se perde uma aposta
As acções conjuntas do senhor Paulson (secretário do Tesouro) e do senhor Bernanke (Reserva Federal) mostram o que vale, na “hora da verdade”, a proclamada independência dos banqueiros centrais: zero. Em mais uma acção concertada, Tesouro e Reserva Federal dos Estados Unidos tomam medidas para impedir as dolorosas liquidações necessárias à limpeza do mercado (e que o próprio mercado está a forçar), criando condições para continuarem a manter aberta a torneira política do crédito fácil com dólares fresquinhos e cada vez mais desvalorizados. O atarantado mercado bolsista suspende por momentos a queda livre em que já dava sinais de estar até a realidade vir em breve bater de novo à porta. Tudo o que o Tesouro e o Fed estão a fazer é protelar uma liquidação saudável, agravando não só a depressão em que já estamos como o descontrolo inflacionista. O dinheiro valerá cada vez menos e as poupanças que não estão seguras em activos não monetários ou financeiros também. Um crash à moda antiga, apesar das garantias de curto prazo, tem de estar a formar-se porque estes milhões de dólares injectados em investimentos inviáveis estão a envenenar a economia, prejudicando todos os investimentos viáveis (auto-sustentados). O preço do petróleo e dos alimentos, sim, só pode continuar a subir. É por isso que a aposta de Ricardo Arroja de 3 de Junho passado (de ver o preço do barril a 120 dólares dentro de dois ou três meses) estava perdida à partida – não há licenciatura em economia ou experiência profissional que valha a ignorarmos completamente o factor monetário nas análises que fazemos do mercado.
domingo, julho 13, 2008
sábado, julho 12, 2008
Pensar com Hooker
Nesta caixa de comentários aconselhei a um anónimo um texto do Rev. A. E. T. Harper, arcebispo de Armagh (Irlanda), que propõe um regresso à metodologia teológica de um dos grandes nomes do Anglicanismo original, Richard Hooker, como forma de evitar a surdez que se instalou entre sectores antagónicos da Igreja de Inglaterra. Neste texto, Holy Scripture and the Law of God in Contemporary Anglicanism in the Light of Richard Hooker’s “Lawes”, na senda de Hooker, o primaz da Igreja (anglicana) da Irlanda relembra a necessidade de distinguir na Sagrada Escritura entre «Lei de Deus» e «Palavra do Senhor». Como observei no comentário, trata-se de um texto que os verdadeiramente interessados na Igreja de Cristo deveriam estar a comentar. O problema é que o cristianismo se encontra demasiadamente "defendido" a partir de preconceitos e posições bem mais seculares e politizadas do que um integrismo poseur muito in na blogosfera nos quer fazer crer.
sexta-feira, julho 11, 2008
Arquivo histórico adventista
Excelente notícia a deste blogue dedicado ao arquivo histórico da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Os Adventistas comemoram 104 anos de presença contínua em Portugal este ano, em que também cumpre o seu 95.º aniversário o caro pastor Ernesto Ferreira, pioneiro nos estudos históricos sobre a presença no nosso país desta igreja.
terça-feira, julho 08, 2008
segunda-feira, julho 07, 2008
Cheiro a "conspiração da pólvora": a "ortodoxia tradicional" dos bispos secretos
Os contactos secretos de alguns bispos (anglo-católicos) da Igreja de Inglaterra com o Vaticano, noticiados pelo Daily Telegraph, foram realizados, alegadamente, em nome da “ortodoxia tradicional” que estaria hoje em perigo na Igreja Anglicana. Como se sabe, o que, segundo esses prelados, põe em perigo a “ortodoxia tradicional” é o reconhecimento de ministros ordenados com uma orientação homossexual assumida e a ordenação episcopal de senhoras (que já podem ser ordenadas diaconisas e presbíteras na Igreja de Inglaterra). Pode compreender-se as suas reservas sobre estes assuntos, mas duas coisas não podem deixar de causar espanto.
Primeiro, em nome da “ortodoxia tradicional”, estes bispos mantiveram (ou mantêm) contactos com Roma sem que, aparentemente, questões que qualquer cristão no seu perfeito juízo considera muitíssimo mais importantes pareçam ser problema: a questão da presença real de Cristo na santa ceia (eucaristia), a natureza sacramental dos ministérios ordenados, o dogma da infalibilidade papal e os dogmas da ascenção e da imaculada conceição da Virgem Maria. Todas estas questões, que os XXXIX Articles of Religion, o Book of Common Prayer e os pontos do Lambeth Quadrilateral do Anglicanismo claramente repudiam parecem não ter importância nenhuma perante as questões da ordenação de senhoras e do reconhecimento de ministros ordenados homossexuais; aliás, do que se depreende das declarações anónimas ou nem tanto de alguns destes bispos, estas duas questões são muito mais centrais do que as que têm dado consistência teológica ao Anglicanismo há quase quinhentos anos. São estes bispos que denunciam a secularização e a descristianização actual na Igreja de Inglaterra, mas que põem em segundo plano questões teológicas e eclesiológicas centrais para darem centralidade a questões de género e de orientação sexual, de modo a justificarem a sua iminente ruptura e os contactos com Roma.
O segundo ponto diz exactamente respeito a estes contactos. Para não entrar em processos de intenção, convém não comentar demoradamente o que este comportamento significa em termos de deslealdade em relação aos respectivos sínodos (que têm representantes do "clero" e do "laicado") e ao conjunto do colégio episcopal da Igreja de Inglaterra, do qual aqueles bispos receberam a sua ordenação (para já não falar do compromisso de lealdade para com a suprema governadora da Igreja – ao assumirem a púrpura e ao entrarem na câmara alta do Parlamento por inerência de funções –, argumento que nos dias de hoje deve valer tanto junto desta opinião cristã quanto o juramento de um agnóstico sobre o Santo Evangelho). Estes contactos, no estado actual da crise no “clero” anglicano, representam a assunção de um ponto de não retorno na divisão do episcopado (evidente na desautorização do arcebispo de Cantuária), que fragiliza a Igreja de Inglaterra, que dá força a todos os seus inimigos e torna mais vulnerável a sua posição constitucional perante o assalto dos que querem o disestablishment e a consagração de um Estado secular, quiçá «laico» (mais um na Europa).
Estes são, para já, os resultados prováveis de uma acção muito grave de bispos que não podem admirar-se se forem acusados de utilizar as questões da homossexualidade e da ordenação feminina no ministério pastoral para realizarem uma ruptura que já estava feita a nível teológico e eclesiológico, mas que como tal não foi assumida. Só um espírito fleumático e ainda e sempre guiado pelo senso comum pode inspirar os sínodos da Igreja de Inglaterra a cerrar fileiras em torno dos bispos leais e dos bons princípios de unidade na certeza, liberdade na dúvida e caridade em tudo.
sexta-feira, julho 04, 2008
5
Este blogue faz hoje 5 anos (é verdade que, logo a seguir, teve um interregno de dois anos).
[Actualização: o L&LP agradece à Maggie a excelente prenda de aniversário, o «D. Pedro», de Herculano.]
[Actualização: o L&LP agradece à Maggie a excelente prenda de aniversário, o «D. Pedro», de Herculano.]
terça-feira, julho 01, 2008
Não digam a palavra?
No seguimento do post anterior e do estado do mercado financeiro norte-americano (ver, por exemplo, aqui), eu gostaria de me enganar em relação a isto, mas parece-me que vem aí um [ssshhhhhh...] crash à moda antiga.
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