terça-feira, dezembro 01, 2020

Eduardo Lourenço, intérprete da circunstância portuguesa da filosofia

O percurso pessoal

Eduardo Lourenço de Faria nasceu em 1923 em São Pedro do Rio Seco, concelho de Almeida (distrito da Guarda). O pai era oficial do exército e a mãe foi a grande presença da sua infância, influindo na educação católica que recebeu. Frequentou o Colégio Militar, em Lisboa, entre 1935 e 1940, ingressando no ano seguinte no curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Tornou-se então colaborador da revista Vértice, associada aos intelectuais neo-realistas próximos do Partido Comunista. Em 1946, defendeu com sucesso a sua tese de licenciatura, O sentido da dialéctica no idealismo absoluto, tornando-se assistente do professor Joaquim de Carvalho um ano depois. Publicou em 1949 o primeiro volume de Heterodoxia, sendo então convidado para leccionar na Universidade de Bordéus (França), vindo também a leccionar em Hamburgo (Alemanha), na Universidade da Baía (Brasil) e, novamente em França, em Grenoble. Casou com Annie Salomon em 1954. Em 1967 publicou o segundo volume de Heterodoxia e, no ano seguinte, Sentido e forma da poesia neo-realista. Em 1973 foi convidado por Mário Soares para ser um dos fundadores do Partido Socialista no exílio, o que declinou. Nesse ano publicou Fernando Pessoa revisitado, propondo uma interpretação dos heterónimos pessoanos. A partir de 1974 passou a residir em Vence, na Provença, leccionando na Universidade de Nice. Em 1976, publicou O fascismo nunca existiu e, dois anos mais tarde, O labirinto da saudade – psicanálise mítica do destino português, que marcou o início da sua notoriedade como figura cimeira do universo intelectual português. Em 1979 foi convidado para integrar o governo de esquerda presidido por Maria de Lourdes Pintasilgo, o que declinou. Em 1986, publicou Fernando, rei da nossa Baviera, uma interpretação do universo literário pessoano. Em 1994 publicou A Europa desencantada e em 1998 O esplendor do caos, sobre a chamada «geração de 70» do século XIX.

Eduardo Lourenço conheceu e viveu, até pela sua circunstância familiar, a cultura religiosa católica que enformou secularmente a sociedade portuguesa. Apesar do seu percurso posterior, não rompeu com o catolicismo – casou catolicamente em 1954 –, mostrando-se sempre interessado em preservá-lo como objecto de reflexão e como ponte para pensar Portugal na sua individualidade e na sua relação com a Europa. Logo no primeiro volume da sua obra Heterodoxia (1949), Eduardo Lourenço considerou necessário adoptar nessa relação com a tradição católica uma atitude heterodoxa, isto é, embora não enjeitando a sua identidade, disponível para explorar os seus limites e para adoptar a perspectiva crítica da atitude filosófica. Uma relação similar foi por si construída com o socialismo, de que se aproximou muito cedo. Convivendo desde os anos quarenta do século XX com o círculo dos intelectuais neo-realistas próximos do marxismo e do Partido Comunista, reunidos desde 1941 em torno da revista coimbrã Novo cancioneiro e depois da Vértice, Lourenço não se identificará com as expressões mais rígidas do socialismo marxista. Manterá, no entanto, a sua pertença a esse universo político e ideológico, embora com a mesma atitude de o pensar a partir da crítica filosófica e até de uma abordagem “heterodoxa”. Por isso definirá logo no fim dos anos quarenta a sua atitude intelectual tanto perante o catolicismo como perante o socialismo: «nem o contrário de ortodoxia, nem de niilismo, mas o movimento constante de os pensar a ambos» (Heterodoxia, I, p. 8). Este posicionamento permitiu que Eduardo Lourenço fosse um dos principais intelectuais a acolher na cultura portuguesa o espaço do socialismo democrático, que considera a expressão mais completa das aspirações cívicas e políticas do homem europeu, mas de um modo que não deixava de radicar-se e dialogar com os valores da tradição cristã e humanista do Velho Continente.

O percurso filosófico

Em termos filosóficos, Lourenço exprimiu as suas inquietações de um modo que não cabia num discurso formal e puramente conceptual, pelo que desenvolveu nas suas obras um estilo ensaístico, «fundado na suspeita do conceito», em que pretendeu também experimentar com mais liberdade a sua atitude “heterodoxa” perante a própria linguagem filosófica. Kierkegaard foi um apoio para esse tipo de abordagem, mas também um interlocutor “heterodoxo” para o diálogo com a ortodoxia católica como era vivida na realidade cultural e institucional portuguesa. Já Nietzsche foi um contra-peso para tecer a relação com a cultura secular do seu tempo e que igualmente se coadunava a este discurso livre embora de base filosófica; tratava-se também de um filósofo especialmente bem situado para servir de referência à temática da «crise da cultura», cujo peso se tornou crescente na sua reflexão. Perante o panorama da filosofia em Portugal, e apesar do interesse crescente pela análise da cultura portuguesa, Eduardo Lourenço teve sempre uma relação distante com a corrente denominada “filosofia portuguesa”, por não poder enquadrar-se na tradição aristotélica que a melhor parte daquela pretendia continuar e por não querer previsivelmente prender-se ao pressuposto enraizado ou nativista que a mesma transportava. Perante o saudosismo erigido a objecto filosófico, que parte da “filosofia portuguesa” quis cultivar, Lourenço mostrou até que ponto era tributário de críticos como António Sérgio que naquele sentimento viam a expressão de uma «consciência delirada da fraqueza nacional». Deste modo, Eduardo Lourenço nunca quis deixar de situar o seu pensamento na continuidade dos críticos europeízantes da cultura portuguesa, da «Geração de 70» (Antero de Quental e Oliveira Martins em particular) até Sérgio, apesar de matizar a sua adesão às tendências racionalistas ou idealistas expressas por esses autores. Também devido a este seu posicionamento, Lourenço nunca pôde ser integrado no grupo dos filósofos ou intelectuais marxistas.

O seu percurso foi considerado eclético, diletante ou “nómada”, sendo sempre evidente o esforço de partir do cosmopolitismo da tradição filosófica para reflectir sobre a realidade histórica e cultural portuguesa. Daí a dificuldade de classificar o livro Labirinto da saudade, no qual refinou e aprofundou o exercício de identificação e análise dos grandes mitos da cultura portuguesa e para o qual toda a sua obra parecia convergir: foi impossível situá-lo numa corrente ou grupo particular, embora dificilmente a sua pertinência tenha sido contestada por qualquer dessas parcialidades. A essa liberdade perante grupos e correntes não foi alheio o facto de residir fora do País, apesar das frequentes visitas a Portugal. Nas suas últimas obras, a questão europeia nas suas relações com Portugal e com o mundo global tem sido aprofundada, como continuidade das suas preocupações de sempre com a Europa enquanto «continente espiritual». “Espectador comprometido” da unidade da Europa, que acompanhou desde o início em França e com a qual Portugal se cruzou desde as décadas de 70 e 80 do século XX, tem emprestado a esta temática a mesma reflexão crítica pouco dada aos entusiasmos de escolas e grupos de diferentes orientações: «Só se podem sentir desencantados aqueles que sabendo a Europa a que pertencem frágil na cena do mundo, por incapacidade de se constituir com um mínimo de coerência política, constatam que quarenta anos de sonho europeu não fizeram da Europa um mito para a consciência do cidadão comum da Comunidade Europeia», escreveu Eduardo Lourenço em 1993.

[Faleceu em Lisboa, a 1 de dezembro de 2020.]

[Junho 2008]

domingo, outubro 25, 2020

60 Minutes Australia and The Age are Fake News


Peter Schiff, sob um ataque sujo a que muito jornalismo (preguiçoso e pouco profissional) infelizmente já nos habituou, defende-se de forma exemplar (informando os seus clientes, mas também os seus ouvintes, em que o L&LP há muitos anos se inclui).

No Youtube, no vídeo "60 Minutes Australia and The Age are Fake News", o L&LP deixou um comentário (reproduzido em baixo). E não é que Peter Schiff respondeu? UAU!!!



domingo, outubro 18, 2020

Michael Levitt, um prémio Nobel para os Filipe Froes deste mundo

Dolores Cahill e a BIG PICTURE da pseudopandemia


[N.P.: Mais um vídeo censurado pelo Youtube. Estamos numa época na qual, em nome da "ciência" (que alguns espíritos julgam ser um saber exato e unívoco), se impede a livre expressão de opiniões e interpretações. Isto é lamentável e muito preocupante. (L&LP)]

segunda-feira, outubro 05, 2020

Covid experts: there is another way [PETIÇÃO INTERNACIONAL]

 


Os principais epidemiologistas têm-se mostrado muito preocupados com as políticas sanitárias seguidas desde a primavera um pouco por todo o lado. Mais três, além dos que nos meses anteriores o L&LP seguiu, tomam agora posição pública:  e . E tomaram a iniciativa de lançar uma importante petição internacional, que o L&LP já assinou, contra o confinamento, o teletrabalho e o condicionamento de horários do comércio e dos serviços.

Ler e assinar aqui



quarta-feira, setembro 16, 2020

Vieira, Costa e Medina vistos deste lado

O apoio de António Costa e Fernando Medina a Luís Filipe Vieira (fazendo parte da comissão de honra deste na nova candidatura à presidência do Sport Lisboa e Benfica) tem intrigado meio mundo pela falta de senso, de ponderação, de sentido da decência (não só por ilustrar em cores carregadas a muito falada promiscuidade entre "política" e "futebol", mas porque Vieira está em incumprimento nos créditos que as suas empresas contraíram junto do Novo Banco, e tem várias acusações em curso na Justiça).

Mas Costa e Medina não podem andar tão distraídos e mal aconselhados. A questão nem é a "falta de vergonha", porque esta cede perante as conveniências táticas da política quando se considera o seu impacto na opinião pública e nos resultados eleitorais próximos. A questão aqui é outra: porque é que ambos não puderam recusar este apoio? Isso é que deveria ser comentado, refletido e, já agora, investigado.

quarta-feira, setembro 09, 2020

Política sanitária: uma voz da razão em Portugal



Entrevista de Camilo Lourenço ao Dr. Gabriel Branco (neuro-radiologista) e membro do grupo Médicos pela Verdade sobre a atual política sanitária.

quinta-feira, setembro 03, 2020

Sobre o processo de nacionalização da banca em 1975

Ricardo Noronha – “A Banca ao Serviço do Povo”: Política e Economia durante o PREC (1974-1975), Lisboa: Imprensa de História Contemporânea, 2018, 356 p. [ISBN 978-989-98388-8-8]

[Publicado em Ler História, n.º 76 (2020), pp. 222-226.] Para versão em PDF, abrir aqui.

 Por estranho que pareça, não há muitos estudos de fundo (menos ainda teses de doutoramento) sobre o chamado “processo revolucionário em curso” (PREC), sobretudo em temas relacionados com a história económica. Ora, o livro aqui recenseado, investigando o contexto e o processo de nacionalização da banca, vem colmatar uma grande lacuna historiográfica e, não sendo um estudo de história económica, permite situar alguns problemas que a esta respeitam. Ricardo Noronha procurou contextualizar o seu tema (a banca) na problemática mais geral das nacionalizações de 1975 e relacioná-la com a conjuntura política e económica – por vezes, aliás, de modo excessivo, prejudicando o espaço dado ao seu tema específico. O imbrincamento do político e do económico, com que orienta a sua análise, é bastante apropriado, embora se socorra pouco da historiografia económica, nomeadamente da relativa ao setor financeiro – por exemplo, o vol. 2 da História do Sistema Bancário Português, coordenado por Nuno Valério (Lisboa: Banco de Portugal, 2010) ou o capítulo deste autor e Anabela Nunes no vol. 3 da História Económica de Portugal, 1700-2000, coordenada por Pedro Lains e Álvaro Ferreira da Silva (Lisboa: ICS, 2012) –, que poderia ter enriquecido o retrato da banca portuguesa antes e depois do 25 de Abril. Tendo em consideração a perspetiva marxista (não muito assertiva) do autor, estudos mais antigos, como o de Daniel Bessa (O Processo Inflacionário Português, 1945-1980, Porto: Afrontamento, 1988) e o de Alfredo Marques (La Politique Économique Portugaise dans la Période de la Dictature – Analyse de trois stratégies de l’État, Genebra: tese de doutoramento, 1980) – por se referenciarem à metodologia da chamada “escola francesa de regulação” de modo aplicado ao caso português –, poderiam ter contribuído para criar um enquadramento concetual mais robusto na vertente económica.

Julgo não faltar muito ao rigor se disser que Ricardo Noronha defende que o 25 de Abril ocorre com uma grave crise económica e bancária já instalada e que a revolução não a teria agravado. No entanto, parece claro que o súbito acentuar da pressão altista dos salários após abril de 1974 teve um efeito simétrico de acentuação da crise económica por ser simultâneo de uma fase de contração induzida do exterior e que requeria ajustamentos opostos aos que se deram. Tanto que, se a crise não se agravou na sequência do PREC, foi porque um ajustamento teve lugar logo no início de 1976, nomeadamente corrigindo a subida de cerca de 22% dos salários reais verificada em 1974-75, viabilizando assim muitas empresas privadas e sustendo a subida do desemprego (cf. José Silva Lopes in F. Rosas, coord., Portugal e a Transição para a Democracia, Lisboa: Colibri, 1998, p. 178). Pelo que poderá ser defensável concluir que, com aquela escalada salarial, associada ao controle dos preços e ao reforço do protecionismo, o PREC terá atrasado o ajustamento do tecido empresarial, dos rendimentos e do mercado laboral aos efeitos em Portugal da crise mundial. E não é impossível que, sem a rigidez introduzida pelos acontecimentos revolucionários, a quebra de -4,3% do PIB em 1975 pudesse ter ficado mais próxima da média da OCDE de -0,4% (já que Portugal vinha de anos com crescimento superior ao da OCDE, verificado ainda em 1974). O mesmo se pode dizer do crescimento da inflação, da despesa pública, do endividamento externo do Estado e da erosão dos ativos do Banco de Portugal, todos acelerando para financiar o custo do adiamento do ajustamento e da inflexibilidade reforçada no PREC.

Continuar a adiar aquele ajustamento, em nome de uma política de redistribuição do rendimento ou de uma nova “governamentalidade socialista”, não era sustentável, como é claro no que o próprio Mário Murteira disse em maio de 1975 à assembleia do MFA, assumindo ser necessário sacrificar “reivindicações salariais e outras” (p. 212). No fundo, a economia estatizada do pós-11 de Março teve de fazer (mais tarde e em condições agravadas) o mesmo ajustamento que a lógica do mercado pedia. Pelo défice de ponderação destes condicionalismos económicos, a historiografia com simpatia pelo socialismo revolucionário, e que se centra na análise puramente política do desfecho do PREC, acaba sempre por aproximar-se de explicações conspirativas mais ou menos assumidas e projetadas nos adversários de tal via (do meu ponto de vista, é isso que explica ainda hoje o processo de intenções marcadamente ideológico na leitura das movimentações dos apoiantes civis e militares de Spínola em torno do 28 de Setembro, os quais tinham, em boa medida, preocupações relativas ao que se estava a passar em termos económicos). Mas, quanto a este quadro historiográfico, é de elementar justiça reconhecer que Ricardo Noronha incorporou no seu estudo não só elementos económicos necessários a uma leitura mais crítica dos condicionalismos da “via socialista” (alguns relevantes, por exemplo do arquivo histórico do Ministério das Finanças e de relatórios do Banco de Portugal), mas também o contraditório empírico patente na exposição de opiniões publicadas na época por personalidades relevantes e críticas do curso da política económica (Alfredo de Sousa no Expresso, nomeadamente). No entanto, há no livro alguma confusão (p. 53) nos valores avançados do índice de preços ao consumidor (vg. “inflação”) que alguma da literatura referida esclarece. Já em relação aos dados sobre os resultados financeiros da gestão privada da banca antes da nacionalização (não incluindo aqui o caso bem conhecido do grupo de Jorge de Brito), conviria tratar de modo mais sistemático e crítico as fontes da época utilizadas.

Quanto às nacionalizações, fulcrais neste livro, o autor pretende claramente legitimá-las à luz do contexto económico e político, bem como defender de certa forma a sua “normalidade” na época. Nesse sentido não está propriamente muito afastado do mainstream historiográfico e até memorialístico de alguns protagonistas. Invoca um “apoio tão alargado e duradouro” no meio político dos anos 70 que explicaria a sua consagração constitucional, mas não esclarece diferenças de perceção (e respetivos “tempos”) entre os atores mobilizados da cena político-militar e entre estes e a (mais larga) opinião pública – além de que a solução adotada na sequência do 11 de Março não fazia então o pleno daqueles atores (veja-se o teor do “Plano Melo Antunes”, que não propunha essa opção). Quanto à “normalidade” da “economia mista” portuguesa saída da revolução, importaria talvez matizá-la. O Estado português (incluindo administrações e empresas públicas), segundo dados de João Confraria (na História Económica de Portugal 1700-2000, vol. 3, p. 406), representaria em 1976 cerca de 45% da formação bruta de capital fixo na economia (contra 19% em França em 1975 e 30% em Itália em 1974) e – importante diferença, reveladora de ineficiência pesada ao País – 24% do valor acrescentado (em França e Itália, respetivamente, 17% e 26%); digamos que não são valores propriamente equivalentes e, tendo em consideração que nenhum país ocidental tinha quase integralmente nacionalizada toda a banca (e seguros) – para não falar da grande indústria –, a “economia mista” portuguesa saída da revolução não estava exatamente dentro da “normalidade” do Mercado Comum da época.

Sobre a justificação “realista” das nacionalizações recorrendo à nebulosa constatação de que “o poder caiu na rua” (com “conflituosidade social” e “radicalização política”) e de que elas foram um meio político de apaziguamento, trata-se de um argumento inevitabilista que realmente não explica os desfechos históricos, como ficou patente na crua “contagem de espingardas” (até ao fim) no 25 de Novembro (e também, já agora, no 11 de Março). O mesmo é dizer que a análise histórica do PREC não pode perder de vista o apuramento do poder fático detido pelas fações preponderantes em cada conjuntura e que isso passa por reconstituir não só os mecanismos organizacionais de mobilização da “rua” (porque os houve), como de angariação de apoios nas Forças Armadas, nas empresas e no aparelho de Estado, identificando as principais forças organizadas em ação nessa disputa, que não foi – e não é nunca – indiferente às soluções momentaneamente vitoriosas. Não ter esta matriz bem clara (preferindo-a a uma contraposição da “espontaneidade” da luta e da reivindicação revolucionárias vs. a reposição da “ordem coerciva” pelos seus adversários) leva o autor a secundarizar completamente, do meu ponto de vista, a estratégia política do PCP como chave para entender não só a ocorrência das nacionalizações no tempo e na escala em que se deram, como todo o desenrolar do PREC. Aliás, o Sindicato dos Empregados Bancários de Lisboa (depois, do Sul e Ilhas), que está no centro desta “trama”, é um ponto de observação privilegiada da ascensão e queda da influência do PCP na contestação sindical, de meados da década de 60 ao fim do PREC (desde a criação das grandes expetativas reivindicativas em plena era de crescimento até à tentativa de enquadrá-las, já na revolução, num socialismo de Estado).

Concretizando: teria sido interessante que algum do espaço dedicado pelo autor à exposição do argumentário dos delegados sindicais contra aqueles que elegiam como seus adversários fosse utilizado para esclarecer a estrutura de poder dentro dos sindicatos de bancários (e as suas ramificações para a Intersindical e o PCP), fundamental para compreender o modus faciendi e a racionalidade política da interferência daqueles delegados na administração dos bancos ou nos saneamentos e no esforço evidente de alinhamento político dos restantes funcionários (pp. 233-236) – tanto mais que a conflituosidade interna foi patente mais tarde nas eleições de 31 de agosto de 1975, em que os próprios bancários afastaram as lideranças que operacionalizaram essas articulações políticas. Do mesmo modo, a “cooperação” da Intersindical com o Ministério do Trabalho (p. 214) deveria ser mais investigada, tal como a relação dos delegados sindicais nos bancos com o Serviço de Coordenação da Atividade Bancária, no âmbito do Banco de Portugal e responsável pelas decisões relativas à concessão de crédito (pp. 236-247). Estas concessões de crédito (aliás consideradas, por um lado, de “natureza precária” e, por outro, transformadoras das empresas ocupadas e/ou intervencionadas em “recuperadas” antes da sua devolução aos seus proprietários logo após o PREC) seriam um indicador fundamental da perceção pública da nacionalização da banca, tendo em consideração o que o autor revela dos inúmeros protestos por o mesmo crédito ser negado a pequenas e médias empresas ainda com gestão privada cujas atividades e manutenção de emprego subsistiam (p. 289ss). Haveria aqui uma atividade predatória sobre o crédito?

Também não seria indiferente ao apuramento da “economia política” do processo de nacionalização da banca aferir até que ponto a disponibilização de crédito a empresas (ainda) não nacionalizadas e geridas por comissões de trabalhadores e delegados sindicais (pp. 226-231) criava incentivos à sua atração a uma estatização funcional (através do financiamento direto de salários e despesas correntes pelo Estado ou por empréstimos por ele avalizados) – gerando-se, assim, uma lógica crua de “emprego político” sem tradução no valor acrescentado (aliás, de difícil mensuração sem o mecanismo de preços a funcionar) e que, objetivamente, criava um privilégio administrativo em relação àqueles que se sustentavam pelo seu trabalho fora deste enquadramento institucional. Só mais duas achegas: em articulação com o Ministério da Agricultura, estes incentivos funcionaram também no caso das unidades coletivas de produção (assunto abordado nas pp. 221-225) e, tal como no caso das empresas antes referidas, traziam-nas para a órbita do modelo de cogestão (estatal e sindical) fomentado pelo PCP e pela Intersindical e que para ambos era instrumental na criação de uma ampla clientela sindical e eleitoral no assalariado agrícola, industrial e dos serviços. E este assunto, conduzindo-nos ao fulcro do equilíbrio de forças e da direção dos acontecimentos no PREC – com consequências na paisagem política do País no período constitucional –, mostra bem que Ricardo Noronha identificou e tratou neste livro um ponto nevrálgico para o esclarecimento da história da “revolução dos cravos”.

quarta-feira, setembro 02, 2020

Um retrato da demência intelectual (e criminosa) à solta


 A criminosa que aparece na fotografia (porque é crime incitar ao crime), chamada Vicky Osterweil, está nas bocas do mundo porque tem à venda um livro com o título de In Defense of Looting (sim, incitando ao roubo, à pilhagem, ao saque). O livro tem origem neste artigo de 2014 com o mesmo título.

Gostaria que alguém que tivesse acesso a esta desclassificada moral e intelectual (um jornalista, por exemplo) lhe perguntasse se se pode começar pela casa dela ou a roupa dela ou qualquer outra coisa dela. Talvez começando por roubar o livro das livrarias? Ou, já agora, o dinheiro que vai fazer com os royalties.

terça-feira, setembro 01, 2020

O célebre discurso do "império do mal"

Discurso histórico, proferido em Orlando (Florida), perante a convenção da Associação Nacional dos Evangélicos (NAE), em 8 de março de 1983. Reagan afirma a ligação entre a liberdade civil e uma sociedade constituída por um grande número de indivíduos tementes a Deus. Um discurso que muitos não compreendem, mas que identifica questões axiais e de sempre.

quarta-feira, julho 15, 2020

Um retrato da "imprensa de referência" portuguesa

Hoje, o jornal Público, para noticiar a acusação agora saída relativa ao "caso BES", destaca o que se vê nesta 1.ª página. É isto o mais importante na acusação? São estas pessoas as mais envolvidas na presumível rede de corrupção e destruição de riqueza em torno da gestão de Ricardo Salgado no antigo Banco Espírito Santo?

A única conclusão a que se pode chegar, da leitura de uma manchete destas, é que este jornal tem uma agenda política. Mas, dada a gravidade do que está envolvido neste caso, e em português chão (às vezes necessário), isto, além de jornalismo reles, é uma retinta filha-da-putice.


Uma sugestão de manchete alternativa (via Camilo Lourenço):

BES estava falido 5 anos antes da resolução

quinta-feira, julho 09, 2020

O banner anti-confinamento do L&LP


De 28 de março até hoje (9 de julho), o L&LP teve este banner (home made) na coluna da direita para deixar bem clara a sua oposição às medidas de confinamento da população. 1.º por ser uma violação de direitos fundamentais; 2.º por ser uma política sanitária desastrosa; 3.º por ter consequências económicas igualmente desastrosas. Esperamos não ter de voltar a exibi-lo.

terça-feira, junho 30, 2020

O "despertar" encenado do Sr. Ministro sem pasta para Lisboa


Fernando Medina, que ficou como valido de António Costa na Câmara Municipal de Lisboa, comportou-se durante o período da "crise sanitária" do Covid-19 como um autêntico ministro sem pasta do Governo. Nas suas funções como autarca neste período, é o principal responsável pela proteção civil no concelho e na área metropolitana de Lisboa. Até hoje, não fizera qualquer reparo à condução da política sanitária, não perdendo uma ocasião para aparecer ao lado da ministra da Saúde e do primeiro-ministro (os principais decisores nessa matéria).

Agora, o Sr. Medina está, aparentemente a participar num número (mais um) que pretende, provavelmente, sacrificar a ministra da Saúde e apresentá-la ao País como a responsável pelos falhanços da "política sanitária", salvando a face (e eximindo de responsabilidades) o primeiro-ministro. Aliás, este disse (para quem o quisesse ouvir) na última reunião do Infarmed, que não teria qualquer responsabilidade por esses falhanços. O L&LP abstém-se de entrar em detalhes sobre o que pensa desta "ética republicana" com que os socialistas portugueses fazem política.

O fanático que nos vai pôr todos a pagar o buraco financeiro da TAP insulta os liberais portugueses



O "senhor" ministro das Infraestruturas e da Nacionalização dos Prejuízos da TAP, depois desta prestação vergonhosa e ofensiva, tem de demitir-se. JÁ.

domingo, junho 28, 2020

Maddie merece que se desenterre o relatório intercalar de 2007


Até melhor prova, o caso do "desaparecimento" da menina Madeleine McCann na Praia da Luz, Algarve (então com 4 anos quase feitos), em 3 de maio de 2007, foi resolvido pela Polícia Judiciária no relatório intercalar (porque formalmente não definitivo) realizado quatro meses depois. Nada de substancial foi descoberto desde então além dos factos apurados naquela investigação oficial.

Por isso, o que deveria ser investigado, desde então, nomeadamente pela imprensa, não é o "desaparecimento" da menina. É a falta de vontade de prosseguir a investigação no sentido original que ela tomou e que produziu uma série consistente de evidências. Deveria ser investigada a insistência das autoridades britânicas, desde a primeira hora, na "tese" do rapto (aderindo a uma campanha nesse sentido lançada pelos próprios pais da menina menos de 24 horas depois), ignorando os resultados da investigação da PJ portuguesa (o que tem incluído um desfile de "suspeitos" de rapto ao longo dos anos, de que - agora com a entrada em cena da polícia alemã no caso - Christian Brueckner é o mais recente); deveria ser investigada a razão de as autoridades portuguesas terem desistido do caso após a picardia com a polícia britânica (o inspetor Gonçalo Amaral foi afastado da investigação e o procurador-geral Pinto Monteiro viria a mandar arquivar o caso a 21.7.2008, numa decisão puramente discricionária); deveria ser investigada a não colaboração dos pais da menina com a investigação portuguesa (nomeadamente, a recusa, conjunta com a dos amigos com que estavam naquela noite, de participarem numa reconstituição); deveria ser investigada a razão de os pais terem (aparentemente em colaboração com as autoridades britânicas) sonegado à investigação portuguesa a história clínica de Madeleine (relevante pelo coloboma que tinha no seu olho direito e pelo hábito dos pais de a sedarem e aos irmãos para dormirem); etc., etc. [Ver mais aqui.] Sem acusação pública, o caso "morreu" em Portugal, mas é bom lembrar que os tribunais portugueses -- naquilo em que puderam pronunciar-se -- estabeleceram uma orientação clara e promissora (nomeadamente a sentença de fevereiro de 2017 do Supremo Tribunal de Justiça, confirmando a decisão da Relação de Lisboa em 2010 do direito de G. Amaral publicar o seu livro A Verdade da Mentira, e que juntou no acórdão a constatação formal de que o arquivamento não equivalia a uma ilibação dos pais da menina no caso).

É difícil alguém minimamente inteligente, e informado sobre este caso, ignorar que o ex-inspetor Gonçalo Amaral apresenta factos muito mais consistentes do que as especulações alternativas. E alguém nessas condições achará também estranha a pouca curiosidade (já não digo das polícias e do ministério público, mas dos media) pela relação de proximidade, à época, dos pais da menina com o então primeiro-ministro britânico Gordon Brown. É que, de um lado, temos uma investigação real que produziu uma série consistente de evidências; e, do outro, sem continuidade com aquela investigação, temos uma "tese" de rapto não fundamentada e, a partir desta, uma procura de "suspeitos", bem como um conjunto de comportamentos (esses, sim, suspeitos), nunca explicados, de pessoas próximas da menina (e presentes no local do desaparecimento) e de agentes da autoridade do Estado com escolhas ainda mais difíceis de explicar pelo senso comum.

O desaparecimento da menina foi uma tragédia e, como diz Gonçalo Amaral, treze anos depois, estranhamente, sabe-se tão pouco sobre a própria vítima. Mas a verdadeira tragédia, à medida que o tempo passa, é perceber como este caso continua envolvido em tanta mistificação. A missão das autoridades policiais, e do Estado, é proteger a vítima. E isso inclui investigar até ao fim a verdade sobre o seu desaparecimento. De contrário, Madeleine será mais uma pessoa "anónima" (e, por sinal, tão frágil à época) tragada pelas conveniências dos mais fortes - sejam estes quem forem.

sábado, junho 27, 2020

5 para 1 tango



[1] Eu, a Senhora 1, ministra-sem-pasta do Apoio Parlamentar, fiz a figura de não saber nada sobre a ajuda do Estado ao Novo Banco, apesar de ela estar no OGE para 2020, que eu aprovei, como muleta que sou do Senhor 2 (mais um servicinho). Consegui, assim, criar o "caso" que levou o Senhor 4 a "demitir-se". Espero ir a ministra com pasta, tipo Espanha…

[2] Eu, o Senhor 2, que sou o verdadeiro encenador do tango e estou a meio de um número de ilusionismo com o Senhor 3, tive de dar ao Senhor 4 (que me prestou o servicinho de me fazer parecer um político de contas certas, mas que não sou) o Banco de Portugal (BdP). Depois, logo se vê, para já empurro (como de costume) com a barriga…

[3] Eu, o Senhor 3, que tenho um ego que se alimenta de popularidade barata e da loucura de superar os 70% de Mário Soares em 1991, percebi que só o conseguirei encostando-me ao Senhor 2 com o grande servicinho de ser o ministro-sem-pasta da Presidência Amansada; e dei-lhe uma perninha no número da fuga do Senhor 4. Não resisto a um bom número…

[4] Eu, o Senhor 4, fiz ao Senhor 2 (que era quem podia concretizar os meus sonhos delirantes com o FMI ou a UE, embora o BdP também sirva) o servicinho da alquimia-eficaz-para-tontos de engolir o aumento de despesa na dívida, na carga fiscal e, claro, nas cativações, apresentando um superavit (que já foi). No BdP podem continuar os servicinhos prestidigitadores talvez com relatórios incómodos para o tango…

[5] Eu, o Senhor 5, orgulhosamente o ministro-sem-pasta da Oposição Auto-anulada, fiz o grande servicinho de me juntar ao tango, viabilizar a fuga do Senhor 4 (que quer distância das Finanças nos tempos difíceis que aí vêm) e ter algum papel (pleeease!) no ilusionismo em curso dos precedentes.

[Todos] Conseguimos não assustar os interesses instalados e os cidadãos-que-não-suportam-a-realidade. Isto não pode voltar atrás. É por isso que este tango vai continuar! Custe o que custar.

sábado, junho 06, 2020

O que aconteceu em Dallas a 10 de agosto de 2016 também foi "racismo"?



Este caso [de Tony Timpa], ignorado pelos media na altura, é menos hediondo do que aconteceu a George Floyd? Não. O que há em ambos os casos a denunciar é a brutalidade policial e a impreparação dos agentes dos corpos de polícia para lidarem com os cidadãos em situações de detenção. Quem aproveita estas tragédias para desviar a atenção (e a vigilância dos cidadãos) da verdadeira questão para introduzir a falsa questão do "racismo" está a ser conivente com estes abusos policiais e está a tratar as vítimas de forma diferente, de acordo com a cor da sua pele.

[Act.] Àqueles que introduzem nesta questão um argumento quantitativo (de que os "negros" são muito mais alvo de violência policial do que pessoas de outras "etnias", nomeadamente os "caucasianos") deve ser lembrado (ou ensinado) que essa diferença é proporcional (até por defeito) à maior presença de "negros" no crime violento e em recontros com a polícia com aquele relacionados. E quanto às causas dessa sobre-representação no mundo do crime, há certamente razões económicas, mas não aquelas que são propaladas pelos demagogos de serviço; as causas parecem ser o "salário mínimo" imposto por lei e as políticas de discriminação positiva normalmente defendida pelos que apresentam o argumento "quantitativo" que supostamente "provaria" o "racismo estrutural" das forças policiais. A relação entre a pobreza e o crime nas comunidades afro-americanas tem sido estudada, divulgada e denunciada há décadas por dois economistas, Thomas Sowell e Walter E. Williams -- para quem quiser informar-se e contribuir para a resolução de problemas, em vez de passar a vida a instrumentalizá-los com fins meramente facciosos.

Fonte: The Peter Schiff Show, Ep. 581.


N.P. 02.09.2020: As imagens captadas pela câmara do agente Thomas Lane (divulgadas em agosto) são absolutamente claras para quem quiser entender este acontecimento trágico. George Floyd estava claramente desequilibrado (hoje sabe-se que sob o efeito de drogas), resiste à detenção e diz claramente que está com dificuldades de respirar antes de estar no chão com o joelho do agente Chauvin em cima. Onde está aqui a brutalidade policial e o "racismo"? E vamos fazer uma análise imparcial, circunstanciada e fundamentada do comportamento destes agentes? Ver o vídeo:

https://youtu.be/VhwxGzYU2ts

quarta-feira, abril 22, 2020

Why lockdowns are the wrong policy - Swedish expert Prof. Johan Giesecke



Entre outras coisas, o que é importante aqui é o que Prof. Giesecke diz do famoso paper do Imperial College que levou à mudança repentina (e catastrófica) da política sanitária no Reino Unido.

domingo, abril 19, 2020

Ere zij God (Glória a Deus)



Para este domingo de pascoela, e desde Urk, no "bible belt" neerlandês, o hino Ere zij God em verdadeiro canto congregacional no que se percebe ser uma igreja vigorosa.

quarta-feira, abril 15, 2020

Dr John Ioannidis (Stanford University): uma entrevista para sair do atual estado de histeria coletiva



Porque é que homens como este não são ouvidos nos media e pelas autoridades sanitárias? Esta é que é a grande questão a ser respondida na louca conjuntura que estamos a viver. (Ver como, ao minuto 53, aconselha a mesma estratégia que o Prof. Wittkowski).

O fim do confinamento obrigatório tem de dar-se urgentemente. Com o regresso à rua e ao trabalho. Nem que seja com desobediência civil.

terça-feira, abril 14, 2020

Prof. Knut M. Wittkowski: "The epidemic is over"



O paper do Prof. Wittkowski explica o que é dito no vídeo.

É caso para dizer que as razões para nos preocuparmos não são as que (quase) toda a gente parece pensar. O que o Prof. Wittkowski diz também está mais de acordo com o que se sabe da história das epidemias, como no clássico Plagues and Peoples, de W. H. McNeill.

A incapacidade dos sistemas de saúde públicos de protegerem eficazmente a população de risco (idosos e pessoas com dificuldades respiratórias, nomeadamente) levou a medidas de confinamento geral da população que pretendem ter um efeito psicológico securitário, mas que, em termos sanitários, só podem ter efeitos contraproducentes (o atraso da imunidade coletiva e o perigo de um segundo surto).

Ver também o estudo recente de uma equipa liderada por um investigador português, aqui.

[ACT.] No mês de maio, o YouTube, fazendo jus à tendência atual de limitação da liberdade de expressão, CENSUROU O PROF. WITTKOWSKI e as suas entrevistas (ver notícia aqui) porque este se opõe à política sanitária com confinamento. Uma medida assustadora que explica por que razão o vídeo supra já não pode ser visionado. [Set. 2020]

sábado, abril 11, 2020

King's College Cambridge: Crux Fidelis by King John IV of Portugal

Frank J. Tipler esmagando preconceitos "científicos" (em tempo de Páscoa)



O conteúdo da introdução deste autêntico programa de TV "confessional" (da "religião" secularista) é hilariante para um cristão, pelo simplismo ignorante, mas presunçoso, do discurso…

A entrevista de Tipler vem logo a seguir. Também vale a pena estar atento ao que diz o entrevistador, tão revelador da vacuidade intelectual de tantos sectários da "ciência"...

sexta-feira, abril 03, 2020

Edward Chancellor: governments’ reaction to the virus will come back to haunt us + Russell Napier: how much debt is too much?


Podcast com Edward Chancellor no site da MoneyWeek (de 31.3.) sobre a exagerada reação sanitária à pandemia que está a destruir grande parte da economia e a repetir os erros da resposta à crise de 2007-2008.

Se outra pandemia aparecer nos próximos tempos (ou a atual reaparecer), o que em teoria não é impossível, vamos ter a mesma resposta sanitária e económica? A sério? O problema é aquele em que se foca Russell Napier neste outro podcast de MoneyWeek (de hoje).

⚠️Isolados contra o Estado de Emergência agravado



Enquanto João Cotrim de Figueiredo justificava assim (e bem) o seu voto contra o estado de emergência agravado, o primeiro-ministro António Costa anunciava a "proibição dos despedimentos" (para que os empresários não aproveitassem a oportunidade atual para o fazerem, Deus do céu!) e o líder da "oposição" Rui Rio declarava a indignidade de eventuais lucros da banca nesta conjuntura. Motivo para pessimismo: a degradação abjeta a que chegaram os dois maiores partidos do sistema. Motivo para otimismo: temos agora, apesar de tudo, uma voz liberal no parlamento.

sexta-feira, março 27, 2020

Mutualização vs. rent seeking


Quanto ao que se passou ontem no conselho europeu, estou com W. Hoekstra (min. das finanças neerlandês), que quer saber por que é que a Espanha (e não só a Espanha, Sr. Costa), ao fim de seis anos de crescimento na zona euro, não tem provisões para enfrentar a presente crise sanitária; esta ideia da UE como irresponsável mutualização dos riscos sempre à custa dos mesmos contribuintes líquidos vai levar ao fim da união.

É que não basta fazer malabarismos contabilísticos numa conjuntura favorável para apresentar, juntamente com uma dívida pública que cresce em termos absolutos, um superavit orçamental pírrico e irrepetível (distribuindo por salários e pensões de alguns uma receita fiscal engordada enquanto se multiplicam cativações que estrangulam a manutenção das infraestruturas e serviços públicos). Quem olhe para o edifício todo percebe a sua vulnerabilidade persistente por opção política.

Camilo Lourenço diz que o Sr. Hoekstra e outros deveriam ter questionado a gestão das finanças públicas espanholas (e portuguesas, Sr. Costa) nos conselhos europeus dos últimos seis anos e não agora, que é o momento de responder a uma emergência. Talvez. Mas pertencemos a Estados antigos, cujos cidadãos têm a obrigação de comportar-se como adultos responsáveis, escrutinando os seus governos, sem estarem à espera dos avisos ou raspanetes dos outros para arrepiarem caminho.

P.S. [Act.] Peter Schiff disponibilizou um artigo antológico explicando as diferenças entre a luta dos Norte-Americanos na Segunda Guerra Mundial e hoje contra o Covid-19 (World War II Was Fought With Savings Not Debt), importante também para políticos e cidadãos europeus com a boca cheia de comparações abusivas (imerecidas e patéticas) com um passado mais sensato e de sacrifícios reais.

terça-feira, fevereiro 04, 2020

Um apelo contra o sectarismo de ambos os lados



A senadora Lisa Murkowski (R - Alaska) proferiu hoje no Senado um discurso a vários títulos exemplar: sobre o presidente, sobre o Congresso, sobre o equilíbrio de poderes e sobre a forma como a "política de blocos" está a degradar a vida pública norte-americana.

P.S. Já Peter Schiff, além de resumir muito bem o estado assustador da política norte-americana, dá aqui a melhor fundamentação da necessidade de uma derrota de Trump na próxima eleição presidencial.