sexta-feira, março 27, 2020

Mutualização vs. rent seeking


Quanto ao que se passou ontem no conselho europeu, estou com W. Hoekstra (min. das finanças neerlandês), que quer saber por que é que a Espanha (e não só a Espanha, Sr. Costa), ao fim de seis anos de crescimento na zona euro, não tem provisões para enfrentar a presente crise sanitária; esta ideia da UE como irresponsável mutualização dos riscos sempre à custa dos mesmos contribuintes líquidos vai levar ao fim da união.

É que não basta fazer malabarismos contabilísticos numa conjuntura favorável para apresentar, juntamente com uma dívida pública que cresce em termos absolutos, um superavit orçamental pírrico e irrepetível (distribuindo por salários e pensões de alguns uma receita fiscal engordada enquanto se multiplicam cativações que estrangulam a manutenção das infraestruturas e serviços públicos). Quem olhe para o edifício todo percebe a sua vulnerabilidade persistente por opção política.

Camilo Lourenço diz que o Sr. Hoekstra e outros deveriam ter questionado a gestão das finanças públicas espanholas (e portuguesas, Sr. Costa) nos conselhos europeus dos últimos seis anos e não agora, que é o momento de responder a uma emergência. Talvez. Mas pertencemos a Estados antigos, cujos cidadãos têm a obrigação de comportar-se como adultos responsáveis, escrutinando os seus governos, sem estarem à espera dos avisos ou raspanetes dos outros para arrepiarem caminho.

P.S. [Act.] Peter Schiff disponibilizou um artigo antológico explicando as diferenças entre a luta dos Norte-Americanos na Segunda Guerra Mundial e hoje contra o Covid-19 (World War II Was Fought With Savings Not Debt), importante também para políticos e cidadãos europeus com a boca cheia de comparações abusivas (imerecidas e patéticas) com um passado mais sensato e de sacrifícios reais.