Já vimos neste blogue, em «O "efeito 2009" amplificado», que a evolução do saldo natural é a causa estrutural verdadeiramente consistente na origem da diminuição da população residente em Portugal.
Convém agora olhar para o gráfico da evolução da própria emigração entre 1976 e 2015. Trata-se de dados do INE apresentados pela Pordata e graficamente editados pelo L&LP:
Vê-se aqui que a emigração temporária, depois de um comportamento "errático" na década de 90 (uma época considerada de afluência), tem uma tendência claramente ascendente desde o início do presente século - quando se inicia a estagnação do crescimento da economia que nenhum demand management (de grandes custos para os contribuintes) conseguiu inverter. A subida de 2011 (ano da quase-bancarrota do Estado português, do resgate da Troika e do Programa de Acompanhamento), embora mais pronunciada, não deixa de vir na continuidade de uma tendência anterior já bem marcada. Trata-se de uma aceleração de uma tendência que, aliás, inverteu abruptamente em 2015 (coincidência com a retoma dos indicadores económicos já patente durante esse ano?).
Quanto à emigração permanente, o ano de 2008 (ainda na legislatura de maioria absoluta do PS) marca o início, logo bem vincado, de uma tendência de subida. Os efeitos da crise internacional, ainda fresca nessa data e com as consequências da crise da dívida soberana ainda não manifestadas, não podiam ser a causa desta subida. As causas eram, seguramente, internas. O crescimento não arrancava e o desemprego já subia para níveis preocupantes nesse ano.
Assinalado a vermelho no gráfico está o ano de 2010, que é realmente o início da subida vertiginosa da emigração. Estava-se no fim do "consulado" Sócrates e colhiam-se os frutos da sua política económica desastrosa. Atribuir ao governo de Passos Coelho a subida da emigração é, pois, inconsistente com os dados existentes. Claro que houve uma crise, um programa de austeridade e um aperto financeiro e de expectativas - mas que já estavam declarados antes das eleições de 5 de junho de 2011. A subida mais acelerada da emigração nesse ano deveu-se só ao que aconteceu a partir do segundo semestre de 2011? Really?
Logo em 2013 verifica-se que a emigração permanente desacelera muito, crescendo já muito pouco; em 2014 começa a cair; em 2015 parece iniciar um "mergulho". Tudo durante o governo de Passos Coelho.
O que aconteceu foi, pois, muito claro: no fim da legislatura em que Passos Coelho liderou o Governo, pôde-se constatar que a grande subida da emigração, iniciada durante os governos de Sócrates, estancou e inverteu decididamente, registando em 2015 uma descida marcadíssima.
O que terá motivado isso? O fim das oportunidades no exterior? A perspetiva da chegada ao poder de António Costa, que levou milhares de pessoas a cancelarem o "salto"?
Give me a break! Ou melhor, Give Passos Coelho a break...
segunda-feira, outubro 10, 2016
sexta-feira, outubro 07, 2016
O «efeito 2009» amplificado
Foi em
2009 que, pela primeira vez na era dos recenseamentos modernos (iniciada em
1864), se registou em Portugal um saldo natural negativo. A tendência já estava bem
anunciada desde 1970 – veja-se o gráfico em baixo.
O recenseamento geral da população de 2011 já confirmou amplamente esta nova realidade de o número de óbitos superar o número de nados-vivos.
Os dados relativos a 2015 (total nacional), publicados este verão, confirmam que a tendência se mantém e acentua. O saldo natural português de 2015 é – 23 011.
Quanto à população residente, estes dados de 2015 exibem, relativamente a 2011,
um decréscimo de quase duzentas mil pessoas. Os dados do saldo natural (que em
2011 já era de – 5992) mostram que esta
diminuição da população residente se deve em boa medida à diferença registada
entre nados-vivos e óbitos. O efeito da emigração, por importante que seja, é
mais conjuntural e não pode obscurecer a tendência de envelhecimento da
população, que, por si mesma, já começou a fazer regredir o total de residentes. [Sobre a subida da emigração, ver Uma nota económica e política sobre a emigração.]
A
evolução do saldo natural de 2011 para 2015 é expressiva: o resultado negativo
quase quadruplica em três anos. Se a progressão nos próximos anos for proporcional
a esta, poderemos registar um saldo natural assustador no próximo recenseamento
geral da população (2021).
O mapa
seguinte mostra os dados do saldo natural de 2015 desagregados por NUTS III no
continente e por concelho nas regiões insulares.
A
tendência negativa regista-se na maioria esmagadora do território continental,
sendo a Área Metropolitana de Lisboa a única exceção significativa (com um saldo
positivo de 1071 nados-vivos acima do número de óbitos). Na NUTS III Cávado
(região de Braga), o saldo positivo é de apenas 151. Em todo o restante
território continental, o saldo é negativo, sendo os valores de mais de 1000 óbitos sobre
os nados-vivos tão frequente no Norte quanto no Sul e quase tão frequente no
Litoral quanto no Interior.
As NUTS
III do continente mais envelhecidas têm, praticamente todas, saldos naturais
muito negativos, o que mostra que o envelhecimento está aí a acelerar muito
rapidamente. Basta dizer que, em 2015, na NUTS II Centro o saldo natural é de –
11 375 e no Alentejo de quase – 5000. A famosa desertificação do Interior vai
acentuar-se.
Para mais informações sobre a população (dados de 2014 e 2015), ver aqui.
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