sexta-feira, outubro 07, 2016

O «efeito 2009» amplificado

Foi em 2009 que, pela primeira vez na era dos recenseamentos modernos (iniciada em 1864), se registou em Portugal um saldo natural negativo. A tendência já estava bem anunciada desde 1970  veja-se o gráfico em baixo.



O recenseamento geral da população de 2011 já confirmou amplamente esta nova realidade de o número de óbitos superar o número de nados-vivos.

Os dados relativos a 2015 (total nacional), publicados este verão, confirmam que a tendência se mantém e acentua. O saldo natural português de 2015 é – 23 011.

Quanto à população residente, estes dados de 2015 exibem, relativamente a 2011, um decréscimo de quase duzentas mil pessoas. Os dados do saldo natural (que em 2011 já era de – 5992) mostram que esta diminuição da população residente se deve em boa medida à diferença registada entre nados-vivos e óbitos. O efeito da emigração, por importante que seja, é mais conjuntural e não pode obscurecer a tendência de envelhecimento da população, que, por si mesma, já começou a fazer regredir o total de residentes. [Sobre a subida da emigração, ver Uma nota económica e política sobre a emigração.]

A evolução do saldo natural de 2011 para 2015 é expressiva: o resultado negativo quase quadruplica em três anos. Se a progressão nos próximos anos for proporcional a esta, poderemos registar um saldo natural assustador no próximo recenseamento geral da população (2021).

O mapa seguinte mostra os dados do saldo natural de 2015 desagregados por NUTS III no continente e por concelho nas regiões insulares.


A tendência negativa regista-se na maioria esmagadora do território continental, sendo a Área Metropolitana de Lisboa a única exceção significativa (com um saldo positivo de 1071 nados-vivos acima do número de óbitos). Na NUTS III Cávado (região de Braga), o saldo positivo é de apenas 151. Em todo o restante território continental, o saldo é negativo, sendo os valores de mais de 1000 óbitos sobre os nados-vivos tão frequente no Norte quanto no Sul e quase tão frequente no Litoral quanto no Interior.

As NUTS III do continente mais envelhecidas têm, praticamente todas, saldos naturais muito negativos, o que mostra que o envelhecimento está aí a acelerar muito rapidamente. Basta dizer que, em 2015, na NUTS II Centro o saldo natural é de – 11 375 e no Alentejo de quase – 5000. A famosa desertificação do Interior vai acentuar-se.

À exceção da ilha de São Miguel (onde, no entanto, alguns concelhos com valores positivos estão já perto do zero), a tendência nas regiões insulares é já claramente negativa. Antigos focos de rejuvenescimento relativo da população, como eram a região de Braga e as regiões insulares, estão a «apagar-se».

Para mais informações sobre a população (dados de 2014 e 2015), ver aqui.