quinta-feira, setembro 08, 2022

Isabel II (1926-2022)

When to the sessions of sweet silent thought
I summon up remembrance of things past,
I sigh the lack of many a thing I sought,
And with old woes new wail my dear time's waste:
Then can I drown an eye, unus'd to flow,
For precious friends hid in death's dateless night,
And weep afresh love's long since cancell'd woe,
And moan th' expense of many a vanish'd sight;
Then can I grieve at grievances foregone,
And heavily from woe to woe tell o'er
The sad account of fore-bemoaned moan,
Which I new pay as if not paid before.
But if the while I think on thee, dear friend,
All losses are restor'd, and sorrows end.

W. Shakespeare, Soneto 30

 

terça-feira, maio 10, 2022

10 possíveis lições da guerra na Ucrânia


1) Putin estava em queda por razões económicas e, com uma intervenção militar rápida e incisiva que pusesse a Ucrânia de joelhos, queria fazer um turnaround galvanizador que distraísse os russos e baralhasse os ocidentais;

2) a capacidade de resistência dos ucranianos impediu essa estratégia e expôs a fragilidade militar russa;

3) a violência russa, prolongada pela resistência ucraniana, está a forjar uma unidade nacional ucraniana que não existia, e em torno da agenda dos pró-ocidentais;

4) Putin viu-se forçado a abraçar os mais extremistas dos nacionais-radicais russos, comprimindo a massa crítica dos seus apoiantes e isolando-se mais entre as elites;

5) a China não está solidária com a ação militar russa, vê antes nela a oportunidade de cair-lhe na sua esfera de influência uma Rússia enfraquecida, com menos laços com o Ocidente e cada vez mais dependente dela em termos económicos (e este será o legado geoestratégico de Putin à Rússia);

6) A União Europeia revelou a sua definitiva incapacidade de resposta a qualquer ameaça externa, paralisada pelos interesses contraditórios dos seus membros mais fortes (diga-se já que não anuláveis por fugas para a frente “federalistas”) e por falta de capacidade militar (que pertenceu à NATO e à atitude liderante de dois países não-“europeus”, EUA e Reino Unido) no auxílio à Ucrânia e aos membros da UE na “linha da frente”;

7) nenhum país europeu, no seu perfeito juízo, vai querer equacionar a sua segurança fora do quadro da NATO (na qual EUA e RU continuarão a ter capacidade e inciativa, que hão de faltar sempre à Alemanha e à França);

8) a ambiguidade e os erros da política energética alemã (que são, em boa medida, os da UE) expõem o autocentramento estratégico de Berlim, que só pode causar perplexidade nos estados europeus (como Portugal, mas não só) que, a reboque da economia alemã, foram puxados para agendas continentalistas que os descentraram do seu atlantismo histórico;

9) os acontecimentos na Ucrânia puseram a nu o que valem as ideias dos que acham esse atlantismo coadunável com a ever closer union da UE ou que os problemas desta se resolverão com votações por maioria ou fugas para a frente “federalistas”;

10) o reforço da NATO (frente aos devaneios de uma “defesa europeia”) e o relançamento do grand design de uma área de comércio livre no Atlântico Norte (articulada com a OMC e extensível ao Pacífico, ao Mediterrâneo, ao mar Negro e a quem, em qualquer geografia, queira juntar-se) são os remédios mais adequados à incerteza russa e ao desafio chinês – ou seja, volta TTIP, que a estupidez dos que te rejeitaram está perdoada!