1)
Putin estava em queda por razões económicas e, com uma intervenção militar rápida
e incisiva que pusesse a Ucrânia de joelhos, queria fazer um turnaround
galvanizador que distraísse os russos e baralhasse os ocidentais;
2) a capacidade de resistência dos ucranianos impediu essa estratégia e expôs a fragilidade militar russa;
3) a violência russa, prolongada pela resistência
ucraniana, está a forjar uma unidade nacional ucraniana que não existia, e em
torno da agenda dos pró-ocidentais;
4)
Putin viu-se forçado a abraçar os mais extremistas dos nacionais-radicais
russos, comprimindo a massa crítica dos seus apoiantes e isolando-se
mais entre as elites;
5) a
China não está solidária com a ação militar russa, vê antes nela a oportunidade
de cair-lhe na sua esfera de influência uma Rússia enfraquecida, com menos
laços com o Ocidente e cada vez mais dependente dela em termos económicos (e este
será o legado geoestratégico de Putin à Rússia);
6) A União
Europeia revelou a sua definitiva incapacidade de resposta a qualquer ameaça
externa, paralisada pelos interesses contraditórios dos seus membros mais
fortes (diga-se já que não anuláveis por fugas para a frente “federalistas”) e por
falta de capacidade militar (que pertenceu à NATO e à atitude liderante de dois
países não-“europeus”, EUA e Reino Unido) no auxílio à Ucrânia e aos membros da
UE na “linha da frente”;
7) nenhum
país europeu, no seu perfeito juízo, vai querer equacionar a sua segurança fora
do quadro da NATO (na qual EUA e RU continuarão a ter capacidade e inciativa,
que hão de faltar sempre à Alemanha e à França);
8) a
ambiguidade e os erros da política energética alemã (que são, em boa medida, os
da UE) expõem o autocentramento estratégico de Berlim, que só pode causar
perplexidade nos estados europeus (como Portugal, mas não só) que, a reboque da
economia alemã, foram puxados para agendas continentalistas que os descentraram
do seu atlantismo histórico;
9) os
acontecimentos na Ucrânia puseram a nu o que valem as ideias dos que acham esse
atlantismo coadunável com a ever closer union da UE ou que os problemas
desta se resolverão com votações por maioria ou fugas para a frente “federalistas”;
10) o
reforço da NATO (frente aos devaneios de uma “defesa europeia”) e o
relançamento do grand design de uma área de comércio livre no Atlântico
Norte (articulada com a OMC e extensível ao Pacífico, ao Mediterrâneo, ao mar
Negro e a quem, em qualquer geografia, queira juntar-se) são os remédios mais
adequados à incerteza russa e ao desafio chinês – ou seja, volta TTIP, que a
estupidez dos que te rejeitaram está perdoada!