segunda-feira, fevereiro 27, 2006
Rever "O Leopardo"
Este fim de semana revi "O Leopardo", de Luchino Visconti (Nimas, Lisboa), mas, pela primeira vez, no cinema. Ainda há pouco tempo vira, na Cinemateca, "E Tudo O Vento Levou" e os dois épicos sobre o desaparecimento de mundos "aristocráticos" têm semelhanças interessantes. Passam-se exactamente na mesma época (primeira metade dos anos 1860) e deixam no espectador saudade pelo ser e pelos modos de alguns personagens representativos do melhor daqueles mundos e "engolidos" pelos acontecimentos. Uma diferença substancial - e que se calhar diz muito da América - é que Scarlett O'Hara não desiste perante a adversidade e sobrevive (na realidade, até prospera) na nova era; já o príncipe de Salina, intérprete da fatalidade siciliana, prefere sobreviver por interposta pessoa (o sobrinho que se coloca bem no novo regime) e "suicidar-se" (pode não parecer escolha dele, mas é: a recusa de um lugar no Senado e os motivos que para isso apresenta tornam-no responsável por esse desfecho). O filme tem cenas inesquecíveis: a entrada da família de Salina na terra e na igreja ou o baile final, no qual o Leopardo tem o seu último momento de "glória" antes de deixar para sempre a cena, quando a noiva do sobrinho cede ainda ao fascínio do príncipe e apaga por breves momentos a vantagem da juventude do noivo. Mas nada volta a ser como antes e o orgulho cede à vida.