sexta-feira, maio 30, 2008

De facto...


«Se não fizeres política, outros farão por ti...» [Via MLS.]

Paul van Eeden na CNBC sobre a subida do preço do petróleo



Nesta conversa na CNBC (após a introdução dos apresentadores, aí a partir do 2.º minuto), Paul van Eeden defende a tese sensata de que a subida do preço do petróleo se deve à política monetária da Reserva Federal norte-americana (algo que, insistentemente, o L&LP também tem defendido). Para Van Eeden, menos de 10% daquela subida se deve à relação entre oferta e procura, sendo cerca de 90% resultado dos sucessivos aumentos da emissão monetária pelo Fed. É engraçado que os apresentadores raciocinem como se o Banco Central Europeu não tivesse também, nos últimos anos, aumentado drasticamente (embora não tão drasticamento quanto o Fed) a sua emissão monetária (ver aqui o gráfico da Bloomberg); o mesmo se pode dizer do Banco do Japão - e é isso que explica que o preço do petróleo também suba em euros e ienes (embora menos do que em dólares). Para terminar, é importante o que Van Eeden diz sobre a forma como se vêm calculando os índices de preços ao consumidor (que apresentam falhas obvias que indiciam fraude premeditada, digo eu) e sobre o abandono pelos responsáveis do Fed do indicador M3, que registava o crescimento amplo da expansão monetária (e cujos valores Van Eeden lembra que coincidem com o índice TMS construído por Rothbard). O que está aqui em causa é a completa ignorância das pessoas que fazem a "opinião económica" sobre a importância do factor monetário na estrutura de preços do mercado (algo que, a determinada altura, leva Van Eeden a ter de dizer que não foi ele que inventou o que é um conhecimento básico em economia).

quarta-feira, maio 28, 2008

Sobre a «crise alimentar»

Resposta hoje enviada a mensagem do IDP sobre mais uma notícia para o coro da nova obcessão colectiva:

«Este alarmismo está a chegar a um ponto insuportável. Crise alimentar? Os preços estão a subir como resultado da política monetária permissiva que os grandes bancos centrais têm seguido - a Reserva Federal norte-americana à cabeça -, inundando o mercado de cada vez mais moeda (o que inclui as recentes ajudas maciças a várias grandes instituições financeiras), o que tinha forçosamente de depreciar o valor do dinheiro (sobretudo do dólar) e provocar um ajustamento dos preços. Por isso a subida de preços se tem verificado no mercado alimentar e no petrolífero ao mesmo tempo, tal como em geral relativamente a todas as mercadorias. Há uma quantidade cada vez maior de dinheiro a circular com o propósito de "olear" no sistema financeiro a máquina de concessão de crédito ao desbarato; logo, os preços dos bens reais tinham de se ajustar. O que se passa é só isto. E para resolver esta crise o que é necessário é repensar o papel dos bancos centrais e o tipo de sistema monetário em que vivemos desde que foi cortada, em 1971, a última amarra ao padrão-ouro. Perder a cabeça e disparar ao lado é que não vai ajudar de certeza.»

[P.S. A "especulação" que possa existir como causa desta subida de preços é consequência deste estado de coisas no mercado monetário e financeiro e francamente residual. É temerário alguém julgar que a "especulação" move os preços à escala global desta forma generalizada e consistente. Para ler gente mais habilitada do que eu que também diz o que aqui defendo, ver aqui.

P.P.S. É também evidente que esta "crise" agride sobretudo as pessoas de baixos rendimentos nas sociedades mais afluentes e a generalidade das pessoas dos países mais pobres; mas isso é, desde sempre, o grande mal da inflação. Porque é de inflação (isto é, de subida geral de preços ao consumidor induzida por excessiva emissão de moeda) que estamos a falar.]

segunda-feira, maio 26, 2008

A propósito da Phoenix Mars Lander

A chegada a Marte da Phoenix Mars Lander lembrou-me uma curiosa leitura de há quase um ano na The New Individualist que insistia no facto de estarmos limitados por um mundo de política espacial que, por sua vez, limita o potencial mercado espacial:

«[…] First, NASA operations are, to a great extent, determined by politics. For example, various NASA centers and projects continue, in large part, because of support by elected officials from the congressional districts and states that benefit directly from their local presence. Second, because NASA is a government agency using taxpayer dollars, it must secure annual approval for its budget, and its projects are subject to oversight by Congress, the Government Accountability Office, Inspectors General, and others. Like other government agencies, NASA answers not to market demand and conditions but to politicians, whose primary incentives are to respond to political pressures and otherwise cover their butts. Third, because NASA uses taxpayer dollars, the incentives to be economical, frugal, and innovative are reduced. Failure often means more taxpayer dollars and bailouts – witness the history of the shuttle and station. […] The seeds of a competitive system of space-development consortia have already been planted. In recent decades, the government has relaxed many of its more onerous regulatory restrictions and unfair practices vis-à-vis private-sector space exploration. As a result, we are now beginning to see how our future in space might look and how that future will be established – not by governments, but by the efforts of individual entrepreneurs. […] But even voluntary, cooperative associations can kill individual initiative and entrepreneurial spirit. […] So, while a free-market system is a necessary condition for space settlement, it is not a sufficient one. Economics is not enough. There is also philosophy. […] Individualist values are required to tame any frontier and to create a harmonious society in a new world. Iniciative, independent thought, personal integrity, self-responsability – these are the virtues that lie at the heart of the individualist code […].»

Edward Hudgins, «Individualism in orbit: morality for the high frontier», The New Individualist, vol. 10, n.º 7 (Julho-Agosto 2007), pp. 16-21.

domingo, maio 18, 2008

Três igrejas episcopais em Nova Iorque

Nave de Saint Paul Chapel, com altar ao fundo.

Uma das coisas que gosto de fazer em grandes cidades é visitar igrejas. Em Nova Iorque, fiz várias descobertas agradáveis. Para começar, Saint Paul Chapel, junto ao City Hall, a mais antiga da cidade e onde George Washington foi orar após ter prestado juramento como primeiro presidente dos Estados Unidos. Foi construída de acordo com o modelo neoclássico de Saint Martin-in-the-Fields, em Londres. No coração de Lower Manhattan, em frente de Wall Street, está a minha preferida: Trinity Church. Construída na época do furor neogótico dos anos 40 do século XIX (sobre dois templos anteriores que remontavam a 1698), é muito diferente e percebe-se que era a igreja episcopal que servia a elite judicial, política e financeira da cidade naquela época (no cemitério, sintomaticamente, está a estátua de John Watts, último royal recorder da cidade e congressista após a revolução, e a campa de Alexander Hamilton). Saint Paul pertence à paróquia episcopal de que Trinity é a sede. Ver também aqui.

Vitral por cima do altar de Trinity Church.

O seu estilo é todo high church, o que se pode constatar também apreciando a maravilhosa All Saints Chapel, no extremo oeste do lado norte do edifício:

All Saints Chapel (Trinity Church).


A terceira agradável surpresa foi a também episcopal e neogótica Saint Thomas Church, na rua 53 (West Side), construída em 1914 para substituir um templo anterior destruído num incêndio. O altar é absolutamente impressionante, inspirado no gótico francês e ocupando toda a parede frontal da nave:

Altar de Saint Thomas Church.


Para desbravar este mundo novo de que aqui está apenas um vislumbre, ler, por exemplo, Edward F. Bergman, The Spiritual Traveler: New York City (New Jersey: HiddenSpring, 2001, 376 p.).

quarta-feira, maio 07, 2008

Petróleo em dólares e em euros


Esta diferença do preço do petróleo em dólares e em euros quer dizer, acima de tudo, que a Reserva Federal tem seguido uma política de desvalorização do dólar mais acentuada do que o BCE com o euro. Daí que o preço do petróleo expresso em cada uma das duas moedas acuse esta diferença [que é notória desde Janeiro de 2003]. Por outro lado, em geral, [...] a desvalorização das moedas, com o aumento da massa monetária em circulação (promovida pelos bancos centrais) é que leva à subida dos preços expressos nessas moedas. As excepções ocorrem quando existem, sectorialmente, desequilíbrios notórios entre a oferta e a procura - o que não parece ser o caso do petróleo agora. Porque, em geral, a subida dos preços ao consumidor (vg. inflação) é um fenómeno puramente monetário.

[Comentário feito a este post no blogue Desmitos. Ver também esta nota aqui no L&LP.]

terça-feira, maio 06, 2008

A poliarquia faz bem à democracia

Majestade, aproveite agora para explicar-me isso da democracia...

No "Diário de Notícias" do último domingo 4 de Maio (p. 2) apareceu uma notícia sobre um estudo de uma ONG britânica, a Demos, relativa à saúde das instituições democráticas na Europa (ver aqui). Este estudo contempla a democracia política, mas inclui dados, que tenta quantificar, mais relativos à participação cívica e a hábitos sociais de escrutínio pelos cidadãos dos responsáveis políticos e administrativos. Ora, o L&LP fez sobre o Índice elaborado nesse estudo um pequeno exercício comparativo entre a posição média das monarquias constitucionais e das repúblicas.

Assim, pode observar-se que, num conjunto de 25 países e numa escala de 50 pontos, as monarquias têm uma média de 38.74 e o conjunto das repúblicas 22.08 (sendo que no "pódio" estão, por ordem, a Suécia, a Dinamarca e os Países Baixos, todos monarquias constitucionais). A monarquia com pior resultado é a Espanha (13.º), mesmo assim a meio da tabela e substancialmente mais bem posicionada que Portugal. Observe-se que a Espanha é também, de entre as monarquias europeias, a que tem há menos tempo e em descontinuidade histórica a instituição dinástica na chefia de Estado.

Conclusões? Primeiro, que a posição das sociedades com monarquia é na parte de cima da tabela. Segundo, que, como se vê, a saúde dos hábitos democráticos se dá muito bem com chefias de Estado dinásticas. Terceiro, que a generalidade dos países na metade de baixo da tabela, há várias décadas sem monarquia, não parece ter melhorado com isso. Ou seja, a poliarquia faz bem à democracia.

segunda-feira, maio 05, 2008

Das falências e do Inferno


Numa reunião de accionistas em Omaha (Nebraska), Warren Buffett proferiu uma frase que merece entrar para os dicionários de citações:

"O capitalismo sem falências é como o cristianismo sem Inferno".

O que quer dizer que os governos e os bancos centrais se têm dado como função fazer algo que se assemelha a decretar o fim do Inferno - promovendo o crédito artificial. Mas ao "Inferno" dos consequentes erros de investimento e necessárias liquidações não conseguem pôr fim; quando muito conseguirão iludi-lo, servido-o em doses faseadas e crescentes - uma das quais é a presente crise financeira (que tem origem na política monetária vigente).

domingo, maio 04, 2008

Myn Lyking


Hino de Natal de Richard Runciman Terry pelo coro e o órgão de King's College, Cambridge.