Pastor Manuel dos Santos Carvalho
Júlio da Silva Oliveira e Manuel dos Santos Carvalho
A Igreja Evangélica Lisbonense (IEL) tem origem na obra evangelizadora de Júlio Francisco da Silva Oliveira (1844-1911), português convertido na Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, onde foi ordenado presbítero regente. De volta a Lisboa, foi recebido na igreja presbiteriana da rua da Arriaga, mas começou a realizar cultos e reuniões de evangelização em sua casa na rua José Estêvão (n.º 135, 3.º Dto.) e, mais tarde, na rua de Angra do Heroísmo n.º 3 (bairro da Estefânia).
Foi aí que, a 19 de Junho de 1898, se constituiu a Igreja Evangélica de Lisboa.
A esta comunidade juntaram-se os membros da comunidade fundada por Manuel dos Santos Carvalho (1821-1916), operário caldeireiro convertido à Reforma entre os metodistas portugueses e que se esforçou por concretizar o sonho de fundar em Lisboa locais de culto autónomos, sem rótulo denominacional nem dependência de sociedades missionárias estrangeiras (o que era então a regra entre os evangélicos portugueses). Tratava-se da denominada Igreja Evangélica Portuguesa, como Carvalho chamou aos locais de culto que mantinha em Lisboa desde 1879.
Um congregacionalismo “prático”
Ambas as igrejas podiam ser consideradas congregacionais – isto é, baseadas num sistema de governo eclesiástico local (que não reconhece acima da igreja local nenhuma autoridade de natureza eclesiástica) e que, de alguma forma, se baseiam em Calvino nas questões mais puramente teológicas.
No entanto, nem a igreja de Silva Oliveira nem os locais de culto de Santos Carvalho tiveram qualquer origem direta no congregacionalismo histórico anglo-americano: o da igreja de Silva Oliveira formou-se a partir do presbiterianismo, evoluindo para um congregacionalismo prático aliado a uma teologia de raiz calvinista mas que, apesar de reconhecer ministérios ordenados na igreja (local), não estava enquadrado num sistema sinodal.
Quanto a Santos Carvalho, desinteressado dos rótulos denominacionais, procurou um caminho independente. Este caminho foi difícil e, por volta de 1890, enfrentava dificuldades a que acorreu a Igreja Fluminense, que em 1876 adotara a declaração de fé de Kalley, a Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo – que sustentava doutrinariamente um congregacionalismo de origem e expressão luso-brasileira. Decidida a ajudar à expansão do Evangelho em Portugal, aquela igreja do Rio de Janeiro viu nos locais de culto de Santos Carvalho um bom ponto de começo de uma ampla obra missionária. Santos Carvalho concordou e formou-se a Missão Evangelizadora do Brasil e Portugal, que enviou para Portugal Henry Maxwell Wright (1849-1931).
A influência metodista
Foi nesta altura que José Augusto dos Santos e Silva (1863-1940), que pertencia à igreja das Amoreiras de Charles Swan (Irmãos), passou a colaborar no trabalho pastoral da nova igreja, que, no entanto, solicitou colaboração aos Metodistas para se dotar de um pastor a tempo inteiro. O pastor metodista Robert Moreton passou então a estar muito ligado à organização da igreja lisbonense.
O Rev. Arthur H. Wilks pastoreou a comunidade entre 1900 e 1903, sendo substituído pelo Rev. T. Simpson (1903-1907). Segundo David Valente, no fim de 1907, a igreja tinha 54 membros comungantes, duas professoras de escola dominical, 98 alunos na escola diária e 136 na escola dominical.
A adesão ao congregacionalismo “doutrinário”
Neste fim de 1907, a igreja lisbonense deixou a colaboração com os Metodistas e recorreu a uma colaboração mais estreita com a Missão Evangelizadora do Brasil e Portugal, optando em 12 de Janeiro de 1908 pelo governo congregacional, adotando também a Breve Exposição como seu “catecismo”.
Tornou-se pastor José Augusto dos Santos e Silva depois de aprovado um documento fundador que seria em boa medida a base dos estatutos apresentados às autoridades administrativas de Lisboa no seguimento da publicação da lei dita de “separação do Estado das Igrejas” e 20 de Abril de 1911.
De facto, no seguimento da obrigatoriedade, decorrente dessa lei, de as comunidades religiosas submeterem estatutos às autoridades administrativas do distrito e de constituírem-se como associações cultuais, a IEL viu aprovados pelo Estado os estatutos da então constituída Associação Mantenedora do Culto da Igreja Evangélica Lisbonense e Suas Missões [Diário do Governo n.º 274, II série, de 25.11.1915]. Estes estatutos foram novamente reconhecidos pelo Estado em 1926 [Art.º 6.º do decreto 11:887, de 6.7.1926] e são aqueles que ainda hoje vigoram nesta igreja.
Este relato histórico, cujos dados se devem à investigação documental do nosso irmão David Valente, continuará em próximo número do Grão de Trigo.