segunda-feira, setembro 12, 2016

Manuais escolares: o desnorte do Governo

Alexandra Leitão, secretária de Estado Adjunta e da Educação, deu uma entrevista ao Jornal de Negócios, disponibilizada hoje on-line. Entre outros assuntos, a senhora secretária de Estado fala da reutilização dos manuais escolares, prevista no novo sistema implementado pelo XXI Governo (em funções). Não há outra conclusão a tirar sobre o que é dito: há um completo desnorte nesta matéria e o Governo não sabe o que está a fazer. A menção a autocolantes a colocar nos manuais (juntamente com a expressão «dizem que...») é eloquente. A consulta do CV da senhora secretária de Estado também nos esclarece que de educação e manuais escolares não pode entender muito.

Excerto da entrevista:

E o que é um livro em bom estado?
É um livro utilizado na sua plenitude, mas não estragado. Rasgado, queimado, cortado… Quando se diz que não vão poder escrever, para começar, as crianças do 1.º ano escrevem sempre a lápis, é uma regra, e isso facilita. É verdade que apagar não é fácil e eles carregam muito [no lápis]. A regra é esta: se no primeiro ano não houver uma taxa de reutilização significativa, não tem nenhum problema. Isto é um processo a médio e longo prazo, um processo de mentalidades, de respeito pelo livro. E até de mentalização para aspectos de natureza ambiental. Tenho ouvido o argumento de que os mais e os menos desfavorecidos estão em pé de igualdade, mas depois a criança mais desfavorecida acaba por, se calhar, devolver o único livro que têm em casa. A resposta a isto, dou-a em duas palavras: bibliotecas escolares. São livros de aventuras, de ficção é que as vão fazer gostar da leitura. E gostava de saber quantas crianças revisitaram o seu livro do 1.º ano. Se calhar em adultos sim, mas em criança não. E aí há um papel importante de ter uma bela rede de bibliotecas escolares.

Acredita que se vão reutilizar muitos? E quem é que os vai apagar? Os pais, antes de os devolverem?
O grupo de trabalho criado para o efeito está a trabalhar nisso. Numa primeira fase trabalhou na implementação da gratuitidade, numa segunda fase na ideia de reutilização e tem de entregar o seu relatório até fim de Novembro. Vamos estudar como é feito noutros países. Nós não somos percursores e essa análise pode nos dar algumas ideias. Dizem que há técnicas de autocolantes e depois escrever por cima, técnicas criativas para isto.