segunda-feira, outubro 10, 2016

Uma nota económica e política sobre a emigração

Já vimos neste blogue, em «O "efeito 2009" amplificado», que a evolução do saldo natural é a causa estrutural verdadeiramente consistente na origem da diminuição da população residente em Portugal.

Convém agora olhar para o gráfico da evolução da própria emigração entre 1976 e 2015. Trata-se de dados do INE apresentados pela Pordata e graficamente editados pelo L&LP:


Vê-se aqui que a emigração temporária, depois de um comportamento "errático" na década de 90 (uma época considerada de afluência), tem uma tendência claramente ascendente desde o início do presente século - quando se inicia a estagnação do crescimento da economia que nenhum demand management (de grandes custos para os contribuintes) conseguiu inverter. A subida de 2011 (ano da quase-bancarrota do Estado português, do resgate da Troika e do Programa de Acompanhamento), embora mais pronunciada, não deixa de vir na continuidade de uma tendência anterior já bem marcada. Trata-se de uma aceleração de uma tendência que, aliás, inverteu abruptamente em 2015 (coincidência com a retoma dos indicadores económicos já patente durante esse ano?).

Quanto à emigração permanente, o ano de 2008 (ainda na legislatura de maioria absoluta do PS) marca o início, logo bem vincado, de uma tendência de subida. Os efeitos da crise internacional, ainda fresca nessa data e com as consequências da crise da dívida soberana ainda não manifestadas, não podiam ser a causa desta subida. As causas eram, seguramente, internas. O crescimento não arrancava e o desemprego já subia para níveis preocupantes nesse ano.

Assinalado a vermelho no gráfico está o ano de 2010, que é realmente o início da subida vertiginosa da emigração. Estava-se no fim do "consulado" Sócrates e colhiam-se os frutos da sua política económica desastrosa. Atribuir ao governo de Passos Coelho a subida da emigração é, pois, inconsistente com os dados existentes. Claro que houve uma crise, um programa de austeridade e um aperto financeiro e de expectativas - mas que já estavam declarados antes das eleições de 5 de junho de 2011. A subida mais acelerada da emigração nesse ano deveu-se só ao que aconteceu a partir do segundo semestre de 2011? Really?

Logo em 2013 verifica-se que a emigração permanente desacelera muito, crescendo já muito pouco; em 2014 começa a cair; em 2015 parece iniciar um "mergulho". Tudo durante o governo de Passos Coelho.

O que aconteceu foi, pois, muito claro: no fim da legislatura em que Passos Coelho liderou o Governo, pôde-se constatar que a grande subida da emigração, iniciada durante os governos de Sócrates, estancou e inverteu decididamente, registando em 2015 uma descida marcadíssima.

O que terá motivado isso? O fim das oportunidades no exterior? A perspetiva da chegada ao poder de António Costa, que levou milhares de pessoas a cancelarem o "salto"?

Give me a break! Ou melhor, Give Passos Coelho a break...