Sobre os últimos escritos de Pedro Arroja (no Portugal Contemporâneo e nomeadamente aqui), transcrevo o comentário de um anónimo que diz exactamente aquilo que penso sobre as infelizes afirmações de alguém que já admirei muito (consultável no haloscan):
"Depois de ver o título do post e a imagem de Hume, pensei que o Arroja tinha escrito alguma coisa acerca do irracionalismo humeano. Puro engano... Hume serviu apenas de pretexto para o Arroja voltar a bater no Descartes. E para voltar a culpar Descartes pela racionalização de Deus, quando – e já me fartei de dizer isto – esta prática não foi iniciada por ele, mas sim pelos filósofos medievais que aristotelizaram e platonizaram o cristianismo. No que à demonstração da existência de Deus diz respeito, Descartes não abriu nenhuma avenida; seguiu foi o caminho trilhado pelos Anselmos, Aquinos e Agostinhos. Hume, sim, é que seguiu outra via, possibilitando a dita revolução copernicana de Kant. Percebe-se, por isso, a pouca vontade do Arroja em falar de Hume, não vá abrir-se uma caixa de Pandora.Agora, estranho (ou não) é o Arroja sentir-se feliz com o falhanço cartesiano, ao mesmo tempo que se sente feliz com a conversão bem sucedida de Flew ao argumento do desígnio. E estranha (ou não) é, também, a sua felicidade por a ideia de Deus não ter sido banalizada ou aprisionada pela razão, quando o próprio Arroja evoca o nome de Deus em vão, isto é, instrumentaliza-o e aprisiona-o numa função que seria a de garantir a viabilidade da sociedade. Se, para Descartes, Deus é a causa primeira do mundo, para o Arroja importante é ele ser a causa primeira da sobrevivência de uma sociedade.E assim, não é preciso imaginar o que seria o terrível mundo de hoje se Descartes tivesse demonstrado a existência de Deus. O mundo de hoje é feito de Arrojas que tratam Deus, não por tu, mas como uma coisa, como um instrumento para controlar as massas. Convém, por isso, Deus não ser banalizado e aprisionado por uma razão critica, mas sê-lo, antes, pela supertição e pela idolatria a que os crentes mais facilmente aderem. Ou não fosse o cristianismo o platonismo do povo, como disse Nietzsche. O mundo de hoje é, portanto, guiado pelo pragmatismo e pelo utilitarismo, e isto está bem patente nas ideias do Arroja acerca da religião. É o mundo em que Deus não está presente como princípio, mas sim como meio. A sociedade viável do Arroja é, afinal, a sociedade em que Deus está morto."
P.S. Na verdade, Arroja falou depois de Hume, mas só para fazer mais afirmações infelizes - ad hominem e sobre o que Hume sustentou sobre a causalidade. Valha-nos Deus!