[Grão de Trigo, Nov. 2011, p. 2]
Quando o grande rei Salomão morreu, após quarenta anos
de reinado, o povo de Israel teve uma atitude surpreendente. Entenda-se aqui
por «povo» os varões de Israel, os homens adultos do reino. Como o Segundo
Livro de Crónicas relata, o povo caracterizou surpreendentemente o reinado de
Salomão como um «jugo pesado» e uma «dura servidão». E foi a Roboão, filho e
sucessor de Salomão, que o povo o disse, acrescentando, temerariamente, que a
sua lealdade dependeria de uma mudança de governação do novo rei (2 Crónicas
10:1-4).
Salomão dera grandeza à monarquia, expandira o reino e deixou o seu
nome para sempre marcando a história de Israel e os livros sagrados. No
entanto, tudo isso acontecera tornando-se pesado ao povo. Perante isto, Roboão,
mal aconselhado por cortesãos imprudentes, escolheu manter o estilo de seu pai,
afirmando que, se Salomão fora pesado, ele seria pesadíssimo. O povo também não
vacilou, mantendo a sua impressionante atitude. Então, a palavra de ordem
tornou-se «cada homem à sua tenda, ó Israel!» (2 Cron 10:16).
Todos viraram
costas à Casa de David, que ficou reinando sobre Judá enquanto Israel se
manteve rebelde e virado para si mesmo. Cada um voltou à sua vida privada, à
sua «tenda», enquanto Roboão se preparava para a guerra. Mas Deus, por meio de
Semaías, dissuadiu Judá e Israel de se confrontarem (2 Cron 11:1-4).
Em todo
este episódio bíblico há duas coisas a destacar. Primeiro, a forma altiva e
decidida como Israel defendeu a sua liberdade, sem se deixar impressionar pelo
poder e pelo status que ele dá – mesmo quando não se trata de um poder
estranho, estrangeiro. Segundo, a condição da unidade é a leveza do «fardo» que
são aqueles que foram investidos de responsabilidades de liderança; e é assim
porque, se o fardo não for leve, quem o carrega perde a liberdade. Não foi,
pois, por acaso que Jesus se considerou o «jugo suave» e o «fardo leve» dos
seus fiéis (Mateus 11:30), pois estes (nós) temos a liberdade como condição de
pertença ao Evangelho (Gálatas 5:1).
DESAFIO… À Igreja de Cristo (tanto universal como local) também se coloca o
dilema em que Israel se viu à morte de Salomão. Saberá a Igreja avaliar o peso
dos «fardos» que criou ou aceitou? E saberá avaliá-los com a bitola da
Liberdade Cristã? Este é um exame que todos devemos estar prontos a fazer, para
não cairmos no jugo da servidão – que leva à perdição.