[Grão de Trigo, Janeiro 2013, p. 2]
O anuário The World In 2013, editado pela revista
britânica The Economist, tem um
artigo de Edward Lucas (p. 24) que traça um cenário pouco promissor para o
cristianismo em 2013.
Segundo este autor, o novo ano tornará mais visível a
crise e a perda de influência que afetam sobretudo as igrejas históricas. A tentativa
destas de resistirem à hegemonia dos valores seculares, que ameaçam tornar o
cristianismo numa subcultura em luta pela sobrevivência no mundo ocidental,
será em grande medida uma batalha perdida.
A Comunhão Anglicana é indicada por
Lucas como exemplar desta situação, dilacerada por uma resistência a tendências
avassaladoras do secularismo, como a «cruzada» a favor do «casamento»
homossexual, e a falta de rumo causada por um liberalismo teológico
representado pelo arcebispo de Cantuária cessante, Rowan Williams. A rutura das
igrejas africanas da Comunhão é muito provável, como já aconteceu com algumas
comunidades episcopais na América.
Mesmo na América do Norte, onde a prática
religiosa cristã sempre foi mais intensa e numerosa do que na Europa, as igrejas
estão estagnadas e o secularismo progride entre os mais jovens e mais
instruídos. Embora Lucas não o diga explicitamente, as igrejas pentecostais e
neopentecostais, outrora tão dinâmicas no Ocidente, parecem também ter atingido
um limite de crescimento.
A Igreja Católica Romana, acossada por outros males e
escândalos, e apesar de gozar exteriormente de uma disciplina maior, não está
melhor.
Por outro lado, as igrejas históricas no Médio Oriente (Palestina,
Egito, Síria e Iraque), e um pouco por todo o mundo islâmico, parecem cercadas
por maiorias hostis, levando muitos cristãos a sair desses países.
Mas é este o
retrato de todo o cristianismo em
2013? Não. A exceção parece ser um conjunto de igrejas protestantes do Extremo
Oriente (Coreia do Sul, China e Taiwan), que estão a crescer em número e
influência numa das regiões mais populosas do Planeta, mantendo a esperança de
que o cristianismo possa continuar a expandir-se, mesmo que de forma
localizada, num mundo em que a população global ainda está a crescer.
DESAFIO…
Perante este panorama, com todos
os riscos de haver erros de perceção neste retrato da realidade, o que devem
pensar e fazer os cristãos individuais das igrejas concretas (como a nossa
Lisbonense)? Estamos na ampla parte do Mundo onde o cristianismo parece em
retirada em termos de número de crentes e de influência pública. Inverter isso
depende de nós em princípio, mas dificilmente na prática. Se o cristianismo se
vier a parecer com uma subcultura minoritária, que isso não nos amedronte – já foi
essa a condição da Igreja apostólica. Não temos de ver nisso nem o nosso
«destino» nem uma inevitabilidade colorida de castigo divino. Temos é de nos
fortalecer interiormente e no testemunho – com cultura bíblica, prática
eclesial e adesão ao Evangelho.