sábado, junho 15, 2013

Protestantismo e cem anos de República

[Grão de Trigo, Nov. 2010, p. 2]

A propósito da conferência de dia 29 de Outubro na Lisbonense sobre o Protestantismo e o centenário da República, talvez seja mais importante «aprender com a história» algumas lições úteis para o presente do que reter datas, nomes e acontecimentos.

Em termos históricos, vimos que as igrejas protestantes se implantaram em Portugal a partir de meados do século XIX e que há cem anos, até 1910, já quase todas as principais denominações existiam no nosso país, com membros portugueses, jornais, associações e escolas. No caso das igrejas chamadas "históricas" (por serem as mais antigas), até se pôde verificar que o número de congregações locais não é hoje muito maior do que então. Esse progresso foi conseguido numa época em que a tolerância religiosa era limitada e não estava assegurada se os protestantes não fossem preseverantes e ciosos dos seus interesses.

Perante a República, proclamada há um século, alguns protestantes depositaram grandes esperanças em que as transformações políticas então ocorridas pudessem contribuir para favorecer a acção das suas igrejas e o seu crescimento. Porém, a lei de separação do Estado das Igrejas de Abril de 1911 foi uma grande desilusão, pois em vez da liberdade religiosa esperada o que trouxe foi a desconfiança perante o religioso (de todas as confissões) e a intromissão do poder político na vida das comunidades.

Os protestantes portugueses pioneiros do século XIX não esperaram que a liberdade lhes fosse dada «de bandeja». Conquistaram-na com a sua acção e determinação. Quando, depois, esperaram que outros os beneficiassem, o que colheram foi a desilusão.
 
DESAFIO… Teremos nós, protestantes portugueses do início do século XXI, a mesma determinação que os nossos antepassados, que iniciaram as primeiras igrejas no século XIX? E não estaremos muitas vezes demasiado confiantes das decisões dos outros – nomeadamente dos responsáveis políticos do País – em vez de examinarmos o que podemos e devemos fazer por nós próprios? Esta poderia ser uma reflexão útil: pensarmos no que queremos, no que podemos fazer e que recursos temos para os levar a cabo. O resto virá por acrescento.