segunda-feira, julho 11, 2005

Quando o "democrata" diz "eu sou o povo"...


O problema do sectarismo é a estreiteza de vistas. A doença do sectarismo é insistir conscientemente na estreiteza de vistas. A demagogia é a forma mais requintada e nociva do sectarismo na política. No século XIX, o celebrado Rafael Bordalo Pinheiro era do mais requintadamente sectário e, portanto, nocivo, que a imprensa portuguesa tinha. Infelizmente, aliava o talento do desenho com o sectarismo político. Com essa mistura, pôde disfarçar o primarismo das suas posições políticas com a forma desenhada bem conseguida em que as apresentava. Nos anos 70, 80 e 90 de Oitocentos (o período de maior alargamento do sufrágio em eleições livres antes de 1975), qualquer deputado republicano eleito era celebrado como uma vitória popular, carregado em ombros pelo "Zé Povinho" com que Bordalo desfigurou o povo português. As votações republicanas eram irrisórias (e assim se mantiveram até 1910) e quase todos os homens adultos votavam (letrados e iletrados), mas só os candidatos republicanos eleitos eram "do povo". Claro que Bordalo sabia da demagogia deste retrato da realidade, mas pouco se importava. Era um meio que se justificava...