quinta-feira, julho 21, 2005

Século XX (n.º 22): O ano de 1921


ESTE ANO: A instabilidade política que atravessou o ano de 1920 continuou em 1921. A razão era muito simplesmente a desagregação do partido democrático provocada pelo fim da liderança de Afonso Costa e a entrada na cena política da guarda pretoriana da República, a G.N.R. Liberato Pinto, cujo governo caiu em Março, era quem os democráticos haviam posto à frente da Guarda. A 2 de Março, Bernardino Machado presidiu a um breve governo que acusou Pinto de concussão e a G.N.R. pressionou o seu derrube e substituição a 23 de Maio. Foi substituído por Tomé de Barros Queirós, do bloco de ex-evolucionistas e ex-unionistas denominado Partido Republicano Liberal, a quem o presidente Almeida ofereceu a dissolução do parlamento e umas eleições antecipadas. Finalmente, os adversários dos democráticos podiam preparar as eleições (de 10 de Julho) a partir do poder mas nem tudo correu bem porque os “Liberais” não estavam menos divididos que os democráticos entre aspirantes à liderança do partido. No seu interior, Queirós favorecera os ex-unionistas, o que levou a facção ex-evolucionista a dessolidarizar-se e a lançar para a frente um dos seus, António Granjo. Divididos face à máquina democrática, os “Liberais” apenas conseguiram uma maioria relativa de 79 deputados em 163 (pela oposição foram eleitos 54 democráticos, 12 reconstituintes, 5 independentes, 4 monárquicos, 3 católicos, 3 dissidentes democráticos, 2 regionalistas e 1 popular). Granjo formou governo a 30 de Julho com o apoio da ala respeitável dos democráticos, chefiada por António Maria da Silva, mas juntou contra si uma coligação temível: o bas fonds democrático, os populares, os sindicatos, os agentes entretanto despedidos da Polícia de Segurança do Estado e a G.N.R. Esta sublevou-se com a Armada, levando a cabo a “noite sangrenta” de 19 para 20 de Outubro em que Granjo (na fotografia) e outras personalidades, incluindo Machado Santos, foram assassinados. O presidente teve de convidar a formar governo a 19 de Outubro um dos revoltosos, Manuel Maria Coelho, substituído a 5 de Novembro por Carlos Maia Pinto e a 16 de Dezembro por Cunha Leal. Mas António Maria da Silva, os “Liberais” e os reconstituintes têm já o propósito de pôr fim ao reinado da G.N.R. e dos grupos armados dos partidos. Vão tentar contar com Cunha Leal para isso mas terá de ser António Maria da Silva a fazer a “limpeza” da República.

BREVES: --- Patronato: A 9 e 10 de Janeiro reuniu-se o primeiro congresso da Confederação Patronal Portuguesa. É a tentativa dos empresários fazerem frente à ofensiva dos sindicatos e chamarem a atenção dos políticos. --- Comunistas: A 6 de Março é criado o Partido Comunista Português, a partir da pequena Federação Maximalista Portuguesa de admiradores da experiência soviética, que aparecera em 1919. --- Norton de Matos: Em Abril, regressa a Angola como alto-comissário o general Norton de Matos. Já fora governador entre 1912 e 1915 e ficará até 1924. Apesar da sua fama de bom administrador, agravará o caos financeiro na colónia, tendo já abandonado as ideias de promoção dos indígenas (trabalho livre e acesso à propriedade) pelo velho sonho oitocentista de uma colonização branca; por isso reprimirá os grupos de crioulos que se opõem à sua prática clientelar de favorecimento dos europeus. --- "Seara Nova": A 15 de Outubro surge uma revista com este nome cujo grupo redactorial inclui homens como Jaime Cortesão, Raul Proença, Ezequiel de Campos, Raul Brandão, José Rodrigues Miguéis e António Sérgio. São todos republicanos laicistas mas que querem a “limpeza” da República, nem que isso passe por uma ditadura. Alguns vieram da revista Renascença Portuguesa, publicada no Porto entre 1910 e 1932, que entretanto evoluíra num sentido mais “espiritualista” em torno de personalidades como Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoais. A nova revista é uma tentativa de um grupo de intelectuais de salvar os ideais republicanos, distinguindo-os da República que existe. Proporão muitos planos reformistas e, em face da indiferença do mundo político, começarão a descrer dos métodos do governo parlamentar. Não deixarão mesmo de apelar à necessidade de uma “boa” ditadura.

Voltar ao Índice.