sexta-feira, julho 15, 2005
A Zona Euro entre a estagnação e a estagflação
A única dúvida que podemos ter actualmente quanto ao futuro próximo da Zona Euro é se vamos ter apenas a continuação da presente estagnação económica ou se, a esse estado, já de si preocupante, se virá juntar a inflação. Quanto à presente estagnação, a projecção da OCDE hoje divulgada pelo "Economist" (gráfico ao lado), é clara em prever a sua acentuação nos próximos anos, com uma atracção fatal das economias da Zona Euro pelo "crescimento zero".
Ora, para o crescimento económico voltar a subir é necessário fazer cortes na despesa pública e na carga fiscal (o que envolve também reformar a sério os sistemas de segurança social), bem como insistir na flexibilização da legislação laboral. Estas medidas, sabemos que os políticos têm a maior relutância em aplicá-las e vão atrasá-las o mais que puderem, como ficou patente nas escolhas feitas recentemente em Portugal pelo governo Sócrates, que espera ainda o milagre de aumentar a receita fiscal para diminuir o défice.
Perante este impasse e a muito provável deterioração do estado das finanças públicas nos países da Zona Euro, a tentação dos políticos será arredarem o Pacto de Estabilidade e Crescimento e porem o Banco Central Europeu a imprimir mais e mais euros com que possam, no curtíssimo prazo, acudir a estas dificuldades. Como os preços logo a seguir se ajustam a essa maior massa monetária em circulação, anulando os efeitos da "ilusão monetária" que os políticos julgam milagrosa, a tendência será acentuar o crescimento da oferta monetária, entrando-se numa espiral inflacionista.
As declarações descaradamente neste sentido proferidas pelo senhor que em Lisboa ocupa a pasta dos negócios estrangeiros é mais um dos muitos indícios de que essa opção está a fazer o seu caminho entre os políticos da Zona Euro. O sr. Freitas do Amaral está a pedir, tal como muitos outros políticos europeus, aquilo a que já chamei aqui uma "salvífica inflação continental". Este era o maior risco do euro, que cada vez mais se torna uma ameaça real e próxima.
É razão para dizer: tenham medo, tenham muito medo! Porque ao presente estado de estagnação que se agrava, na Zona Euro, se pode juntar uma vaga inflacionista que, dadas as dificuldades financeiras estruturais dos Estados, se pode tornar um caminho depois difícil de parar, descambando numa hiper-inflação. E isso pode ser o fim do mundo como o conhecemos.