terça-feira, julho 26, 2005
Século XX (n.º 27): O ano de 1926
ESTE ANO: O golpe de estado ocorrido a 28 de Maio, já ensaiado em Fevereiro, não surpreendeu verdadeiramente ninguém. O chefe do governo deposto, António Maria da Silva, não desconhecia os preparativos nesse sentido levados a cabo por vários militares e membros da oposição. O general Gomes da Costa, prestigiado pela sua acção na Grande Guerra e com ligações aos meios políticos da República, aceitara a chefia do golpe poucos dias antes. Para tal já havia sido sondado pelo comandante Mendes Cabeçadas em nome do grupo conspirador e no dia 28 iniciou as operações a partir de Braga, recebendo apoio imediato de divisões militares em todo o País. O governo decidiu apresentar a sua demissão a 29 e o presidente da República, Bernardino Machado, aceitou-a. A 30 de Maio toma posse um novo governo, chefiado por Mendes Cabeçadas, que ordena o encerramento do parlamento e recebe do presidente da República (demissionário) plenos poderes. Mas em Junho, a propósito do elenco do novo governo, assiste-se logo a uma tensão entre os dois chefes do golpe, Mendes Cabeçadas e Gomes da Costa. A 6 de Junho, Gomes da Costa entra em Lisboa à frente de 15 mil homens e vem a conseguir, entre 17 e 19 desse mês, a chefia do governo e o afastamento de Mendes Cabeçadas. A 22 de Junho é estabelecida a censura prévia à imprensa e a 29 Gomes da Costa torna-se interinamente presidente da República. Mas esta concentração de poderes em Gomes da Costa (que acumula as presidências da República e do governo com as pastas do Interior e da Guerra) não é do agrado de todos os membros da junta militar, pelo que lhe é imposta a 11 de Julho a passagem das suas funções no governo para o general Oscar Carmona. O golpe parece contar, senão com o apoio, pelo menos com a expectativa de quase toda a oposição ao governo do partido democrático, por si deposto. Por seu lado, os militares não têm uma noção clara daquilo que pretendem fazer, além da unânime reclamação de um poder executivo forte e de alguma sedução que acham necessário exercer sobre determinados sectores económicos e os meios católicos. Para isso, prometem mais proteccionismo e maior regulação do mercado, ao mesmo tempo que sondam um conhecido professor católico, Oliveira Salazar, para estudar uma eventual reforma financeira e fiscal. As cabeças do golpe são no entanto militares republicanos e o que pensam é mais numa “purificação” da República do que na sua substituição.
BREVES: --- Costa na S.D.N.: Afonso Costa é eleito a 8 de Março para presidir à assembleia extraordinária da Sociedade das Nações. --- Comunistas interrompidos: O II Congresso do P.C.P. realiza-se em 29 de Maio e vem a interromper-se por causa do golpe de estado então ocorrido. --- Censura: É instituída a censura prévia à imprensa a 22 de Junho, como se tornara hábito nos períodos de excepção da I República. Desta vez, porém, a censura manter-se-á no País até 1974. --- Polícia política: Em Agosto é reconstituída a Polícia de Segurança do Estado com outra designação (Polícia Especial de Lisboa). Existe uma continuidade entre esta última e a polícia política já estabelecida na I República. --- Missões: As missões católicas no ultramar são dotadas de Estatuto Orgânico a 13 de Outubro, sendo-lhes reconhecida prioridade na «evangelização e civilização» dos indígenas. Havia já alguns anos que a medida vinha sendo defendida como forma de apoiar a presença portuguesa em África, depois do fracasso das “missões laicas” projectadas pelos laicistas. --- Antimodernos: Surge em Dezembro a revista Ordem Nova de inspiração integralista e representativa da agitação intelectual e radicalização dos “monárquicos” da nova geração. Um dos seus fundadores, Marcello Caetano, será uma das figuras políticas do Estado Novo a opor-se em 1951 à possibilidade de restauração da Monarquia.
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