quinta-feira, julho 21, 2005

Século XX (n.º 26): O ano de 1925


ESTE ANO: No final do ano, a 10 de Dezembro, o presidente da República Manuel Teixeira Gomes (na fotografia) renunciou ao seu cargo. Fora designado pelo parlamento a 6 de Agosto de 1923 e era um fiel de Afonso Costa, que tentou sem sucesso fazer regressar ao governo em Novembro desse ano. Teixeira Gomes foi apanhado entretanto nas contendas internas do partido democrático e na aliança tácita da sua ala radical (os “canhotos” de José Domingues dos Santos) com a oposição do Partido Republicano Nacionalista. O alinhamento de nacionalistas e “canhotos” contra a liderança moderada de António Maria da Silva criou-lhe uma situação política delicada. A oposição nacionalista não consegue ganhar eleições e o partido democrático, com a sua divisão interna, parece já não conseguir governar. A sua recusa em finais de 1923 de conceder ao governo nacionalista de Ginestal Machado eleições antecipadas e, já este ano, de alinhar com o golpe de 18 de Abril contra o governo, acabou por concitar contra si toda a oposição e encostá-lo a António Maria da Silva, o que ele não queria. O presidente da República via toda a sua acção completamente bloqueada, via-se um prisioneiro da actual situação política. Em face disso, preferiu deixar o cargo, a política e o País. A 11 de Dezembro, o parlamento elegeu Bernardino Machado para o substituir. Esta crise da presidência mostra que se chegou a uma situação de impasse político. A República “limpou-se” nos últimos anos, acabando em boa medida com o clima de guerra civil que a dominara quase desde o início, acabou com a inflação e está a sanear as contas públicas. No entanto, o sistema político continua a não funcionar, com a oposição a recorrer ainda e sempre à táctica golpista. A única diferença é que os golpes são agora menos sangrentos, mais disciplinados e envolvem as altas patentes militares. Este clima, por seu lado, impede que se instale a confiança necessária para trazer ao País a retoma do investimento e os capitais afugentados. A política económica responsável seguida nos últimos anos não surte assim os necessários efeitos que relancem os negócios e o emprego. A emigração volta a subir. Os interesses económicos e os sindicatos, insatisfeitos, alinham com o desespero golpista dos nacionalistas e dos dissidentes democráticos.

BREVES: --- Dissolução: A 9 de Fevereiro, o governo ordena a dissolução da Associação Comercial de Lisboa, provocando o protesto da União dos Interesses Económicos. O confronto entre o partido democrático, dominado pela sua ala radical, e os interesses económicos, agudiza-se. --- Rádio: Abílio Nunes dos Santos Júnior inicia a 1 de Março as primeiras emissões regulares de rádio em Portugal com a estação difusora de Lisboa CP1AA. --- O “18 de Abril”: Segunda tentativa de golpe militar para derrubar o governo; a primeira ocorrera a 5 de Março. Estão envolvidos membros da oposição nacionalista e haverá nova tentativa a 19 de Julho. A 2 de Setembro, o julgamento dos revoltosos em tribunal militar torna-se num protesto do Exército contra o governo do partido democrático. Os réus são absolvidos. --- Quatro governos: A 15 de Fevereiro toma posse o governo de Vitorino Guimarães, sendo substituído a 1 de Julho por António Maria da Silva, que cai pouco depois. Sucede-lhe o gabinete de Domingos Pereira a 1 de Agosto mas, a 17 de Dezembro, António Maria da Silva chefia de novo o executivo após as eleições de 8 de Novembro. Estas mudanças devem-se essencialmente à luta entre as duas alas do partido democrático, que se cindiu em Agosto: formou-se então a Esquerda Democrática de José Domingues dos Santos como partido autónomo. --- Alves dos Reis: Em finais de 1925 rebentou o escândalo do Banco Angola e Metrópole, cujo capital consistia em notas duplicadas do Banco de Portugal que o empresário Alves dos Reis fizera abusivamente imprimir em Inglaterra. A burla deu azo a mirabolantes especulações com as quais se pretendia maliciosamente implicar António Maria da Silva.

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