sexta-feira, julho 29, 2005

Século XX (n.º 40): O ano de 1939


ESTE ANO: O deflagrar da II Guerra Mundial em Setembro deste ano veio abrir a Salazar uma “frente externa” de luta política bem mais complexa que a criada pela guerra civil espanhola desde 1936. Portugal não quer envolver-se nas questões europeias, pretendendo meramente prevenir ameaças à integridade do seu território metropolitano e à sua soberania ultramarina. A aliança com a Inglaterra, nosso principal parceiro comercial e potência que domina os corredores marítimos que nos ligam a África e ao Oriente, continua a ser o eixo da política externa portuguesa. Em face do conflito no país vizinho, Salazar tinha obvias preferências pelo lado franquista (que apoiou militarmente contra o “mal maior” representado por um sector republicano crescentemente hegemonizado pelos vermelhos), mas manteve alguma distância tanto para não se demarcar da posição neutral inglesa como para contrariar as veleidades anexionistas da direita radical espanhola. A 13 de Março deste ano, foi celebrado com Franco um acordo de amizade e não-agressão que se inscreve nesta linha de contenção do “perigo espanhol”. Agora, perante a guerra europeia, o seu principal objectivo relativamente à Espanha é que esta não alinhe com os Alemães e evite a extensão do conflito à Península Ibérica. Se isso acontecesse, a invasão hispano-alemã de Portugal seria inevitável. Mas, mesmo fazendo tudo para o evitar, Salazar manterá conversações secretas com os Ingleses a partir de Dezembro de 1940 para a eventualidade de acontecer o pior: nesse caso, a Inglaterra deveria apoiar a retirada do Governo português para os Açores e assegurar a defesa do arquipélago. Entre a opinião pública, é partilhada a clara inclinação anglófila do Governo, havendo uma minoria de simpatias fascistas na imprensa ou, por exemplo, na Legião. Aliás, Ingleses e Alemães desenvolvem uma autêntica guerra de propaganda em Portugal para influenciarem a opinião pública e que, nesta fase, o Governo prefere não contrariar a bem da neutralidade. A derrota da França e de outros países ocidentais até ao Verão de 1940, tornando a Alemanha aparentemente invencível, vai forçar Salazar a moderar a anglofilia da política portuguesa sobretudo no que a questões económicas dizia respeito: os Alemães estavam nos Pirenéus e Franco podia ter de ceder-lhes. (Na fotografia, um avião militar português desta época).

BREVES: --- Recusa: A 14 de Abril, o Governo português declinou o convite que lhe foi endereçado pelo embaixador italiano em Lisboa para ingressar no “Pacto Anti-Komintern” (já subscrito pela Alemanha, Itália e Espanha). Passado o perigo da guerra civil espanhola e de uma conquista do poder pelos comunistas no país vizinho, Salazar inicia um período de contenção dos elementos pró-fascistas do regime e de regresso a uma posição de equidistância entre o Eixo nazi-fascista e a entente anglo-francesa. --- Aliança: A 17 de Agosto, nas vésperas do começo da II Guerra Mundial, os governos português e inglês concluem um acordo que visa rearmar as forças militares portuguesas. Portugal quer prevenir a sua segurança na eventualidade de um conflito à escala europeia, enquanto à Inglaterra não convém que os países ibéricos se envolvam nas hostilidades (porque não seria fácil combater uma ofensiva italo-alemã na península com a provável cooperação de Franco). --- Prevenção: A 14 de Dezembro, perante o deflagrar da guerra, o Governo atribui-se competências alargadas de fixação de preços e definição de quotas de importação e exportação, antevendo eventuais necessidades de racionamento de alimentos e combustíveis.

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