terça-feira, julho 26, 2005
Século XX (n.º 30): O ano de 1929
DESTAQUE: A 5 de Agosto, após o falecimento do cardeal Belo, é eleito para lhe suceder no patriarcado o arcebispo de Mitilene, D. Manuel Gonçalves Cerejeira. Este é de há muito amigo pessoal de Salazar e um dos mais destacados intelectuais e dirigentes católicos.
ESTE ANO: Com o decreto de 21 de Agosto, o governo lançou a sua primeira grande iniciativa económica depois das regras financeiras adoptadas no ano passado. A iniciativa foi apresentada com o lema de «o trigo da nossa terra é a fronteira que melhor nos defende» e o seu principal objectivo é o aumento da produção nacional. Esta “campanha do trigo”, como é já chamada, insere-se nos mecanismos criados em 1889 e 1899 que visam proteger a produção nacional em detrimento do grão importado. O sistema criado há quarenta anos e completado há trinta instituiu um organismo oficial que compra anualmente toda a produção nacional de trigo a preços fixados pelo governo e depois a revende à indústria moageira para fabrico das farinhas. Só esgotada a produção nacional vendida ao Estado, é autorizada por este a compra de cereal estrangeiro pelas moagens. Tal mecanismo, que força o mercado nacional a consumir o cereal produzido em Portugal, tem sido responsável pelo preço alto do pão, mas evitou a falência de muitos lavradores sobretudo alentejanos em face da concorrência do trigo americano, mais barato e de melhor qualidade. A “campanha do trigo” não vem modificar este sistema, pelo contrário, toma-o como ponto de partida e pretende intensificar a sua dinâmica. Para isso, o governo acrescenta-lhe agora, além de um aumento do preço de compra da produção nacional, um programa de subsídios aos produtores para incentivar o uso de adubos químicos e processos de modernização das técnicas de cultivo, nomeadamente a debulha mecânica. Com estas medidas, o governo da ditadura pretende alcançar outros objectivos além do aumento da produção nacional e de uma maior substituição do trigo importado. Ao subsidiar o uso de adubos pelos agricultores está a criar um amplo mercado nacional para os fabricantes nacionais desses adubos, protegendo-os também da concorrência externa; está nestas condições o grupo empresarial C.U.F. Por outro lado, num País onde abunda a mão-de-obra, a expansão da área de cultivo vai fixar muita gente à terra e à actividade agrícola e inverter a tendência anterior para um decréscimo da percentagem de população activa nesse sector. A “campanha do trigo”, tranquilizando as reclamações que vinha fazendo há anos a grande lavoura, mostra também que a orientação económica do governo é claramente intervencionista e dirigista.
BREVES: --- Clandestinidade: A 21 de Abril tem lugar a conferência nacional do P.C.P., que escolhe Bento Gonçalves como secretário-geral. --- Sinos: A legalização pelo ministro da Justiça, Mário de Figueiredo, das procissões e do toque de sinos das igrejas acirra os ânimos laicistas do governo da ditadura. O chefe do governo, Artur Ivens Ferraz, opõe-se à medida, a qual, apesar da sua demissão, se mantém. A 8 de Julho, José Vicente de Freitas passa a presidir ao governo. --- Manifestação dos Municípios: A 21 de Outubro tem lugar uma reunião das comissões administrativas das Câmaras Municipais em apoio a Salazar, o qual pronuncia no seu discurso uma frase (propositadamente diferente de outra de Mussolini) que se tornará emblemática: «tudo pela nação, nada contra a nação». --- António José de Almeida e João Franco: Faleceram o antigo presidente da República (30 de Outubro) e o ex-chefe do governo afastado da política desde o regicídio de 1908.
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