quinta-feira, julho 21, 2005

Século XX (n.º 13): O ano de 1912


ESTE ANO: A emigração portuguesa regista o seu maior volume anual de sempre. Cerca de 88.900 pessoas deixam o País neste ano de 1912 rumo às Américas, sobretudo ao Brasil e Estados Unidos (em barcos como o da fotografia). Desde a década de 1860, a emigração portuguesa tem vindo a crescer continuamente apesar das variações anuais. Entre 1860 e 1899, o País perdeu 648.710 habitantes que emigraram legalmente e, no período de 1900 a 1939, virá a perder 1.217.210 habitantes. Se for contabilizado um número aproximado de emigrantes clandestinos, pode dizer-se que certamente mais de dois milhões de Portugueses deixaram o País nesse período de oitenta anos. A maior parte da emigração é originária do norte do território continental, seguindo-se o centro e as ilhas. São as famílias rurais que mais contribuem para este fluxo migratório em regiões onde a extrema divisão da propriedade não permite que os pais continuem a partilhar as suas terras por vários filhos. Por outro lado, apesar do relativo progresso que o País tem conhecido desde o século passado, as transformações são demasiado lentas para permitirem a absorção de uma população em acentuado crescimento. As novas profissões e ocupações surgidas na indústria e nos serviços multiplicam-se ao ritmo do modesto desenvolvimento da nossa produção industrial e da actividade comercial. O proteccionismo não tem ajudado porque a indústria nacional, garantindo embora o escoamento da sua produção em Portugal, acaba por se moldar ao nosso mercado pobre e pouco exigente e ficar incapacitada de concorrer com os produtos dos países mais desenvolvidos. Desse modo, também acaba por não criar muito emprego porque o que pode investir e produzir sem grandes riscos é muito limitado. A crise financeira que assolou o País há vinte anos ainda deixou as suas marcas e o abandono precoce do padrão-ouro entre nós não dá grande segurança às famílias e aos indivíduos de poderem usufruir das suas poupanças. Deste modo, as portas abertas nas Américas são para muitos Portugueses a única esperança de singrar na vida e de construir a sua independência e felicidade. Os engajadores e agentes de empresas recrutam alguns prontos a partir, outros vão à aventura com um bilhete e pouco mais. De qualquer modo, a emigração é uma importante válvula de escape na nossa sociedade, hoje também mergulhada em grande incerteza política.

BREVES: --- Bispos afastados: A 14 de Janeiro, foram proibidos por dois anos de residir nas respectivas dioceses os bispos de Viseu e Coimbra no seguimento das críticas que estes prelados fizeram à legislação recente sobre cultos e família. Em Maio, o Centro Académico de Democracia Cristã retoma as suas actividades; na direcção estão, entre outros, Gonçalves Cerejeira e Oliveira Salazar. --- Repressão: Entre 28 e 30 de Janeiro foram duramente reprimidas pelo Governo as greves organizadas pela Associação Anarco-Sindicalista em solidariedade com os trabalhadores rurais do Alentejo. São encerradas as sedes dos sindicatos e, a 31 de Janeiro, os carbonários participam no assalto à União dos Sindicatos e na prisão de sindicalistas. --- Polícia “guarda” condutor de eléctrico durante a greve geral: Após a proclamação da República, julgando o novo regime frágil e generoso, o operariado e os assalariados em geral desfizeram-se em reivindicações salariais e pressões grevistas. Em resposta tiveram a repressão não só da polícia mas também dos carbonários. Pouco tempo depois, os sindicalistas já diziam que a repressão de Afonso Costa era ainda pior que a de João Franco.--- T.S.F.: Acordo com a Casa Marconi a 22 de Fevereiro para introdução da telegrafia sem fios em Lisboa, Porto, S. Miguel, Funchal e S. Vicente de Cabo Verde. --- Tifo: Uma epidemia de tifo em Lisboa, de 2 de Março até Abril, vitima 254 pessoas. --- Novo governo: A 16 de Junho tomou posse um novo gabinete presidido por Duarte Leite e dominado pelos Democráticos. Estes raramente têm maioria mas os governos dificilmente se fazem sem o seu apoio. Em Julho há novas incursões “monárquicas” no Norte mas são dominadas pelas forças governamentais.

Voltar ao Índice.