quinta-feira, julho 21, 2005

Século XX (n.º 23): O ano de 1922


DESTAQUE: Com a travessia aérea do Atlântico Sul (Lisboa-Rio de Janeiro) a bordo do “Lusitânia”, Gago Coutinho e Sacadura Cabral (na fotografia) puderam dar aos Portugueses um certo sabor de aventura e glória. Como toda a gente estava muito necessitada dessas sensações, houve alguma tendência para o exagero, sendo o feito logo comparado aos dos navegadores do século XV.

ESTE ANO: O ritmo de crescimento da inflação atinge este ano o auge em Portugal. Desde o fim do padrão-ouro que os governos recorreram em várias ocasiões a um aumento da emissão de moeda fiduciária. Os primeiros governos da República fizeram-no, tal como os governos da última década do século XIX. Isso era uma forma do Estado poder fazer alguns pagamentos sem aumentar a tributação nem recorrer a empréstimos. O valor real da moeda, claro, degradava-se e conduzia a uma subida dos preços e do câmbio com a moeda forte da época, a libra esterlina. Tudo o que fosse importado, como grande parte do trigo consumido, ficava muito mais caro. Mas também o carvão de que dependem as máquinas a vapor e as centrais térmicas que fornecem a electricidade às empresas e aos domicílios. Ora, a partir do começo da I Grande Guerra em 1914, o recurso a esse expediente intensificou-se: o volume de moeda em circulação em valores nominais era em 1913 de 160 mil contos mas neste ano de 1922 é já de mais de um milhão e meio de contos (1.787.000 contos). Em 1928 este valor já terá duplicado, o que deixa ver que a inflação continua alta mas a um ritmo menos acelerado de crescimento. Em média, os preços são em 1922 dez vezes mais altos que em 1913, o que mostra bem a correspondência entre a emissão fiduciária e o índice de preços. Os assalariados e os dependentes de rendas – que vivem do dinheiro que recebem de outrém – são os mais sacrificados e os mais descontentes. Aquilo que recebem vale cada vez menos e os ajustes que se vão fazendo nos salários ou nas rendas, no caso de poderem ser feitos, não os protege de grandes perdas de rendimento e poder de compra. Casos paradigmáticos são os do funcionalismo público e dos oficiais do Exército. Assim, por exemplo, um segundo-oficial do funcionalismo tem em 1922 apenas 65% do poder de compra que tinha em 1914, enquanto um major tem cerca de 57%. Desde a guerra, os governos desenvolveram ainda duas práticas de efeitos contraproducentes: o controle dos câmbios e o controle dos mercados de determinados bens essenciais. No primeiro caso, as limitações impostas inibiram mais os agentes económicos do que impediram a degradação do escudo nas operações cambiais. No segundo caso, a compra por parte do Estado de determinados bens para os revender a baixo do preço de mercado só agravou os défices das contas públicas e a consequente pressão inflacionista.

BREVES: --- Eleições: A 29 de Janeiro, as eleições dão a vitória aos democráticos e António Maria da Silva chefia o governo que toma posse a 6 de Fevereiro. Ao contrário de Cunha Leal, que hesitara, António Maria da Silva está decidido a pôr fim à anarquia e manda prender os principais responsáveis da “noite sangrenta” de 1921, enfrentando também a G.N.R., desarmando-a em Março e transformando-a num corpo de policiamento rural. No campo económico, as prioridades do governo são estancar o crescimento da inflação e desmontar alguns esquemas regulamentadores como o do chamado “pão político”; para efectuar algum equilíbrio sustentado das contas públicas, recorre a aumentos de impostos. Esta será a via de estabilização seguida pelos governos seguintes. --- Congresso católico: A 29 de Abril em Lisboa, realiza-se o II Congresso do Centro Católico. O Prof. Oliveira Salazar apresentou uma tese sobre os princípios e a organização do Centro. --- Greve geral: A 7 de Agosto, a greve geral decretada pela C.G.T. causa desordem suficiente para o governo declarar o estado de sítio em Lisboa. --- Brasil: O presidente da República, António José de Almeida, efectua em Setembro uma visita oficial ao Brasil, integrada nas comemorações do 1.º centenário da independência.

Voltar ao Índice.