sexta-feira, julho 29, 2005

Século XX (n.º 39): O ano de 1938


ESTE ANO: Após os primeiros filmes de Aurélio Paz dos Reis antes da República ou o curto sucesso da produtora portuense Invicta Filme antes da década de 20, só nos anos 30 o cinema se populariza, o mesmo acontecendo com as emissões de rádio, experimentadas desde meados da década de 20. A produtora cinematográfica Tóbis Portuguesa e as primeiras grandes estações de rádio de programação generalista fazem agora o seu aparecimento. Em 1931, fundado por Botelho Moniz, começou a emitir o Rádio Clube Português, que se tornará a principal estação privada de radiodifusão do País durante muitas décadas. Em 1933, sob administração estatal e por iniciativa de Duarte Pacheco, surgiu a Emissora Nacional de Radiodifusão, claramente associada ao esforço do Estado Novo de desenvolver uma “política cultural” que continuasse a tendência ideológica de “reaportuguesar Portugal”. Esses ideais culturais nacionalistas ou nativistas, mais tarde considerados invenção da “política do espírito” do Secretariado da Propaganda Nacional (S.P.N.) de António Ferro, eram as concepções absolutamente dominantes entre a intelectualidade e os meios artísticos desde o final do século XIX e o governo de Salazar foi simplesmente o primeiro a ter recursos para delinear estratégias e subsidiar criadores. A rádio, além de permitir ao poder político evitar a mediação única da imprensa na sua relação com a opinião pública, criou condições – tal como o cinema – para que a grande massa da população, mesmo a parte iletrada, pudesse ser progressivamente integrada nessa “cultura portuguesa” recriada ou inventada das “marchas populares”, do fado, das “aldeias típicas”, dos monumentos “restaurados”. O cançonetismo nacional, através da rádio, torna-se uma das facetas mais populares desta nova era cultural e o cinema, com filmes sonoros como A Severa (1931), A Canção de Lisboa (1933) ou Aldeia da Roupa Branca (1938), ajuda a criar uma imagem tipificada e popular de Portugal, fadada a grande longevidade. Além do estricto controle político destes meios de comunicação e de uma censura relativa aos costumes (neste aspecto não muito diferente do que acontece um pouco por toda a parte), a rádio e o cinema não deixam também de ir familiarizando o público português com uma cultura mais cosmopolita, suplementar, de cantores estrangeiros e fitas de Hollywood.

BREVES: --- Príncipe: Após a anexação da Áustria pelo Reich alemão em Março, o Governo português concedeu passaporte nacional ao depositário dos direitos dinásticos, D. Duarte Nuno de Bragança, ainda residente em Viena. --- Anúncio: A 27 de Março, uma nota oficiosa divulga o programa das Comemorações do Duplo Centenário da Fundação e da Restauração, que terão lugar em Lisboa e Guimarães em 1940. --- Reconhecimento: A 28 de Abril o Governo português reconhece oficialmente a Junta de Burgos, chefiada pelo general Franco, como o governo legítimo de Espanha. Nesta altura, a guerra estava já plenamente internacionalizada e, no lado republicano, dominada pelos comunistas. --- Camping político: A 28 e 29 de Maio realizou-se o II Acampamento Nacional da Mocidade Portuguesa e da Mocidade Portuguesa Feminina, reunindo em Lisboa mais de 20 mil filiados. Os contactos com as Juventudes fascista italiana e nazi alemã, alimentadas sobretudo pelos elementos de simpatias fascistas dentro da M.P., mantêm-se, tal como os esforços de nela integrar os corpos de escuteiros previamente existentes (com oposição dos próprios e da Igreja Católica). --- Eleições: A 30 de Outubro, os eleitores foram votar nos candidatos únicos da U.N. à Assembleia Nacional. O círculo nacional só será abandonado em 1945 a favor dos círculos distritais.

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