terça-feira, julho 19, 2005
Século XX (IX): O ano de 1908
ESTE ANO: O ano começou com a prisão de alguns republicanos e correligionários de José de Alpoim implicados em projectadas actividades bombistas. Para 28 de Janeiro, os mesmos conspiradores projectaram o assissínio de João Franco e um golpe de estado na capital apoiado por vários oficiais do Exército e da Armada. Falhada esta iniciativa, Alpoim fugiu para Espanha e foram presos o seu amigo visconde da Ribeira Brava, o professor universitário Afonso Costa e o médico Egas Moniz, ambos republicanos. A 31 de Janeiro, um decreto permitia ao governo expulsar do País os conspiradores, provavelmente para evitar a agitação que o julgamento das personalidades envolvidas provocaria. Mas, na tarde de 1 de Fevereiro, outros membros do grupo de conspiradores esperavam a Família Real, que regressava de Vila Viçosa. Falhado o golpe, haviam decidido pôr fim ao franquismo massacrando o Rei e os seus familiares. Os agentes do atentado, com armas ocultas em capotes, foram Alfredo Costa e Manuel Buíça, membros de lojas maçónicas e da conspiração projectada por Alpoim e Afonso Costa. Depois de desembarcarem no Terreiro do Paço, o Rei, a Rainha D. Amélia e o Príncipe Real D. Luís Filipe cumprimentaram os membros do governo e os Infantes D. Afonso (irmão do Rei) e D. Manuel (segundo filho do Rei), e entraram nas carruagens que os levariam ao Paço das Necessidades. O aparato policial não era grande e circulava-se à vontade na zona. Quando iam a entrar na rua do Arsenal, Costa saiu da multidão, pendurou-se na carruagem do Rei e deu-lhe dois tiros de pistola nas costas que o mataram e feriram D. Manuel. Na mesma carruagem, D. Luís Filipe levantou-se, puxou da sua arma e logo foi alvejado no peito pela carabina de Buíça, que saltara das arcadas. Enquanto os assassinos não foram neutralizados pela polícia, a própria Rainha atacou Costa com o que tinha na mão: um ramo de flores. O Príncipe não sobreviveu ao atentado e, poucos minutos depois, D. Manuel era Rei. O governo de Franco, malquisto pela Rainha, caiu dias depois, sendo entregue o governo ao almirante Francisco Ferreira do Amaral. Iniciou-se a “acalmação”: foram libertos todos os conspiradores, fizeram-se eleições a 5 de Abril e as Cortes reabriram a 29. Zé Luciano e Júlio de Vilhena (sucessor de Hintze no partido regenerador) parecem entender-se para salvar o regime, apoiando Ferreira do Amaral.
BREVES: --- Instrução Primária e Popular: Realizou-se o I Congresso Pedagógico de Instrução Primária e Popular em Abril. A grande preocupação dos participantes foi o combate ao número enorme de analfabetos existente. Ao longo das décadas anteriores foram feitas algumas tentativas pelo Estado e particulares mas só o lento progresso do País vai tornando compensador para a maioria das famílias o investimento na educação primária dos seus filhos. --- Manifestação de estudantes universitários em apoio de D. Manuel II: Em finais de Maio, Lisboa assistiu a ruidosas manifestações estudantis de simpatia para com D. Manuel II. O jovem Rei não se limitou a receber deferências, restaurando todas as liberdades políticas e concedendo uma ampla amnistia que abrangia todos os implicados no próprio regicídio. Durante o ano, o monarca visitou também várias unidades militares, tentando garantir a sua fidelidade: D. Manuel II fez tudo o que lhe competia para salvar a Monarquia, incluindo deixar o seu destino nas mãos dos políticos eleitos. --- Legislação laboral: As Cortes aprovaram em Maio um diploma sobre acidentes de trabalho que visa acautelar os direitos dos operários. A aplicação da lei será, porém, difícil. --- Lisboa republicana: As eleições municipais, em Dezembro, deram a vitória à lista republicana em Lisboa. Vitórias republicanas similares ocorreram também na zona do vale do Tejo, no Alentejo e no Algarve. Em Lisboa e noutras localidades as vitórias republicanas são concessões de Ferreira do Amaral para integrar e tranquilizar os republicanos, com o apoio e a abstenção dos progressistas de Zé Luciano e dos dissidentes de Alpoim. --- Caminhos de ferro: Concluída a linha que liga Évora a Arraiolos e a Moura. --- Novo governo: Após a retirada do apoio de Júlio de Vilhena ao governo de Ferreira do Amaral, foi nomeado a 25 de Dezembro um novo gabinete, chefiado por Alberto Campos Henriques. Este é um regenerador que rompeu com Vilhena e tem o apoio dos progressistas de Zé Luciano. O partido regenerador entrou em colapso.
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