quinta-feira, julho 21, 2005

Século XX (n.º 20): O ano de 1919


ESTE ANO: Após a morte de Sidónio, o sidonismo começou a cair aos bocados mas ainda conseguiu fazer frente aos impacientes. A 12 de Janeiro, em Santarém, começou uma tentativa de golpe para restaurar a “República Velha”, mas foi dominado. Passadas as agruras da guerra e com a Conferência de Paz à vista, o poder torna-se de novo apetecível. Mas, para os democráticos, ainda desacreditados, a restauração da “sua” República não seria tarefa fácil nem rápida. Contaram entretanto com uma ajuda inesperada: a de Paiva Couceiro. Este e o seu grupo de “monárquicos” antes afectos a Sidónio, proclamavam a Monarquia em Lisboa e no Porto a 19 de Janeiro. Foi uma aventura para a qual arrastaram o lugar-tenente de D. Manuel II, Aires de Ornelas, mas que teve efeitos contraproducentes. A base de apoio do partido democrático e dos outros partidos republicanos, que estava dividida e inactiva, encontrou uma causa para se unir, logo explorada pelos seus líderes. A 20 de Janeiro, Lisboa estava inundada de manifestantes que davam vivas à República e começaram a formar-se batalhões de voluntários que, a 24, acabaram com a “Monarquia” em Lisboa. No Porto, os correligionários de Couceiro (fotografia) dominaram a cidade num regime rebelde, de quase um mês, que ficou conhecido por “Monarquia do Norte” e que teve fim a 13 de Fevereiro com a entrada na cidade do Exército regular. Em Março, toma posse o governo do democrático Domingos Pereira, que repõe em vigor a Constituição de 1911 e prepara eleições para 11 de Maio (novamente sem sufrágio universal). Os democráticos saem vencedores e formam a 26 de Julho o primeiro governo constitucional da Nova “República Velha”, chefiado pelo coronel Sá Cardoso. A questão operária começa a estar no centro das preocupações e a colocar-se perante os republicanos de outra forma, devido ao fenómeno do comunismo soviético e da agitação dos seus admiradores no Ocidente. As medidas “sociais”, de sedução dos meios operários, continuam: congelamento das rendas de casa, horário de 8 horas de trabalho, esquemas de assistência pública. A 1 de Outubro, evolucionistas e unionistas fundem-se no Partido Republicano Liberal para tentarem jogar com os democráticos uma reedição do “rotativismo” bipartidário da Monarquia. Ao presidente é dado o poder de dissolver o parlamento. Mas a boa vontade não era para durar.

BREVES: --- Conferência de Paz: A 18 de Janeiro, inicia-se em Versalhes a Conferência de Paz, na qual os aliados vitoriosos se reúnem. Preparam-se para consumar, entre outras coisas, a humilhação da Alemanha e a dissolução do Império Austro-Húngaro, que tornarão a Europa em poucos anos madura para uma nova guerra. A delegação portuguesa é chefiada por Egas Moniz, que é depois rendido por Afonso Costa quando o poder muda de mãos em Lisboa. Da conferência, Portugal virá com a sua soberania sobre as colónias assegurada. --- Bairros operários: A 6 de Março o governo abre um crédito de 100 contos para construir bairros operários mas estes projectos serão um fracasso, à excepção do bairro do Arco do Cego. --- Render da guarda: A 30 de Março o governo chefiado por José Relvas, que desde Janeiro fizera a transição do último governo sidonista de Tamagnini Barbosa para a Nova República Velha, é substituído por Domingos Pereira. --- Medidas políticas: A 17 de Abril, sai nova lei que proíbe o aumento das rendas de casa e a prática da sublocação. A 7 de Maio, é instituída a obrigatoriedade do regime de oito horas de trabalho diário. A 10 de Maio, a administração do ensino primário é devolvida aos concelhos e às suas juntas escolares. A escolaridade obrigatória passa para cinco anos. É também dada autonomia administrativa à Casa Pia e à Misericórdia de Lisboa, sendo criado um Instituto de Seguros Sociais Obrigatórios e de Previdência Geral. --- António José de Almeida: Eleito presidente da República a 6 de Agosto, o chefe dos evolucionistas deveu o lugar à boa vontade dos democráticos. Mas esse cargo, tal como o afastamento de Afonso Costa, significava que os grandes líderes da República estavam a ser substituídos por novos líderes partidários.

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