quinta-feira, julho 21, 2005

Século XX (n.º 19): O ano de 1918


ESTE ANO: Sidónio Pais, professor de Matemática em Coimbra e oficial do Exército retirado, vestiu a farda para tomar o poder. É um republicano puro do género de Machado Santos, que acha que o problema da República é parecer-se demasiado com a Monarquia, com o seu parlamento e com os seus políticos. Está rodeado de uma série de jovens oficiais e cadetes, muitos dos quais se dizem “monárquicos” mais por oposição radical ao regime existente do que por fidelidade à Casa de Bragança. Tem a convicção de que o poder executivo não pode estar à mercê da câmara dos deputados e dos directórios partidários, tendo também uma solução muito concreta: o presidencialismo. Quer um presidente eleito directamente pelo povo e por sufrágio universal mas que seja também pessoalmente o chefe do governo, como nos Estados Unidos ou no Brasil. O segredo do seu sucesso imediato, além da farda e da sensibilidade paternalista que sabe explorar com charme, é ser o proponente de uma reforma tangível e que logo executa. A 28 de Abril faz-se plebiscitar presidente, por um sufrágio universal que a República prometera e negara ao País. Faz eleições em que aceitam jogar o seu jogo os centristas, alguns transfugas dos outros partidos e os “monárquicos” e revê profundamente a Constituição num sentido presidencialista. Faz a corte aos agricultores, criando um Ministério da Agricultura (9 de Março), e dá passos sólidos para resolver o conflito do regime com a Igreja. A 23 de Fevereiro restitui ao clero a plena gestão dos assuntos do culto (em que a lei de separação intrometia o Estado) e a 10 de Julho reatou as relações diplomáticas com a Santa Sé. Mas no parlamento dominado pelos supostos aliados, a questão religiosa abre fissuras na sua heterogénea base de apoio. O seu próprio partido, denominado Nacional Republicano, é mais uma fantasia de unidade que outra coisa. Após um período inicial de expectativa, a União Operária Nacional passa a opor-se-lhe e ele não hesita em combater as greves como os democráticos. Os seus adversários preferem combatê-lo a tiro: depois de escapar a um atentado a 5 de Dezembro, é morto noutro no dia 14, na estação do Rossio. Os seus admiradores vivem então dias de histeria, entre patéticas elegias à sua memória e actos de terror revanchista. Mas em breve a “República Velha”, dominada pelos democráticos, está de regresso.

BREVES: --- Desastre trágico: A 9 de Abril, a 2.ª divisão do C.E.P. é massacrada pelo fogo da artilharia alemã junto ao rio Lys, morrendo 327 oficiais e 7098 praças. O C.E.P. estava em vias de entrar em colapso por falta de pessoal militar para render os soldados da frente e pela deserção de oficiais em licença em Portugal. O governo conseguira já o acordo dos aliados para a retirada do C.E.P., o que aconteceu a 8 de Abril com a 1.ª divisão. No dia 9, a 2.ª divisão dever-se-ia retirar mas sofreu antes disso um súbito ataque alemão. --- Ensino: É transferida a administração do ensino primário das câmaras municipais para o governo a 12 de Jullho. A 14, é contraído um empréstimo para criação de novas escolas primárias e cantinas. --- Nun’Álvares: A 18 de Julho surge a Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira, organização nacionalista onde começam a convergir pessoas de vários sectores políticos. --- Proibição: Os comícios operários contra a carestia de vida são proibidos a 14 de Setembro. A 12 e 13 de Outubro já uma tentativa de golpe é levada a cabo contra Sidónio Pais. Instigada pelos meios operários e democráticos, a agitação leva o governo a declarar o estado de sítio para controlar a situação. A 12 de Novembro a União Operária Nacional mobiliza-se para uma greve geral que as comemorações do Armistício de dia 11 farão abortar. --- Amadeo de Souza Cardoso: Neste ano morre um dos grandes nomes da pintura portuguesa do princípio do século, fundador e expoente da corrente dita “modernista”. Amadeo de Souza Cardoso, como Guilherme Santa-Rita, outro pintor que morre em 1918, explora entre nós as tendências abstraccionista e cubista que se desenvolvem então na arte ocidental.

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