segunda-feira, julho 18, 2005
Século XX (V): O ano de 1904
ESTE ANO: A 11 de Abril, as duas maiores cidades do País passaram a estar unidas, já não só através do telégrafo e do caminho de ferro mas também do telefone. A nova linha tem 333 km de extensão e foi já toda montada por técnicos portugueses. Uma primeira tentativa de estabelecer a ligação telefónica Lisboa-Porto tivera lugar em 1887, sob a administração do então ministro das Obras Públicas Emídio Navarro. Mas o carácter avultado dos investimentos e as dificuldades económicas e financeiras por que passou o País desde 1891 atrasaram o projecto. A conclusão e concessão da linha foi entregue há três anos pelo Estado a uma companhia de capitais britânicos e portugueses, a Anglo Portuguese Telephone Company, com o contrato de 15 de Abril de 1901. Os serviços postais e de telégrafo foram também recentemente reorganizados. Em Lisboa, existem as seguintes estações telégrafo-postais: de distribuição e transmissão, Alcântara, Escola Politécnica, Estefânia, Graça e Lapa; só de transmissão, Cais dos Soldados, Campolide, Calhariz, Santa Marta, Rossio e Cortes. Esta última serve apenas o parlamento e só funciona quando as Cortes estão reunidas. Do mesmo modo, a estação das Necessidades, serve a Casa Real, uma vez que é no Paço das Necessidades que residem o Rei e seus familiares. No Porto, estão em funcionamento sete estações telégrafo-postais: de distribuição e transmissão, Bolsa e Cantareira; só de transmissão, Boavista, Campanhã, Carlos Alberto, São Bento e Marquês de Pombal. Existe ainda em funcionamento desde 1901 uma outra estação em Paços de Ferreira. É de lembrar que as forças armadas têm os seus próprios serviços telegráficos e, no Exército, o Regimento de Engenharia tem uma companhia de telegrafistas de campanha. A legislação portuguesa e os serviços postais e telegráficos nacionais seguem já os regulamentos internacionais aprovados pela União Postal Universal na conferência de Budapeste de 1896. As ligações internacionais têm também conhecido melhorias: há quatro anos, o Governo e a companhia Eastern Telegraph celebraram um contrato que faz passar pelo Funchal e São Vicente de Cabo Verde o cabo telefónico que ligará a Inglaterra à África do Sul.
BREVES: --- O Kaiser em Lisboa: O Imperador da Alemanha, Guilherme II, efectuou este ano uma visita oficial a Portugal. Os alemães cobiçavam as colónias portuguesas mas nunca conseguiram convencer a Inglaterra das vantagens da sua partilha. Neste ano estiveram também na capital, em visita oficial, o Presidente francês Émile Loubet e a Rainha Alexandra de Inglaterra, esposa de Eduardo VII. --- Greves continuam: Trabalhadores portuários e metalúrgicos de várias casas tentaram continuar a onda grevista de 1903. --- Barker assegura o Rei: O almirante Barker, comandante da esquadra americana que esteve no Tejo em Junho, reafirmou a D. Carlos I o apoio do presidente Theodore Roosevelt a Portugal caso a actual disputa de Marrocos pelas grandes potências ponha em causa os nossos interesses. --- Novo governo: As necessidades financeiras do Estado levaram o Governo a renegociar o contrato do monopólio dos tabacos, tentando conseguir do concessionário (o Conde Burnay) maiores dividendos. Mas a oposição progressista acusou o governo de irregularidades e conseguiu em Outubro a demissão de Hintze Ribeiro. O Rei convidou José Luciano de Castro a formar governo. --- Regência de D. Maria Pia: De meados de Novembro a meados de Dezembro, a mãe do Rei, a Rainha D. Maria Pia, assegurou a regência. O motivo foi a viagem a Inglaterra do soberano, da sua esposa Rainha D. Amélia e do Príncipe Real D. Luís Filipe, com o propósito de retribuir a visita de Eduardo VII e de preparar o noivado do herdeiro da Coroa com a princesa Margarida. --- Comboios: Foi concluída a linha férrea da Beira Baixa e terminado o ramal Setil-Vendas Novas.
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