terça-feira, julho 19, 2005

Século XX (VIII): O ano de 1907


ESTE ANO: A aliança entre franquistas e progressistas foi-se deteriorando nos primeiros meses do ano. Quando, a 12 de Abril, os Deputados foram de férias, o Sr. João Franco era um homem politicamente frustrado. O seu governo continuava dependente dos progressistas e estes recusavam-se a colaborar plenamente consigo. As reformas por si sonhadas não encontraram terreno fértil nesta aliança de faz de conta. O governo esteve para cair quando se fez a remodelação de 2 de Maio sem que as principais figuras progressistas entrassem no novo gabinete. Mas o Rei decidiu intervir e dar ao chefe do governo a possibilidade de dispensar o relutante apoio parlamentar progressista. Assim, a 10 de Maio, as Cortes foram dissolvidas sem que novas eleições fossem marcadas e o Sr. João Franco ficou à frente de um executivo só com homens seus e habilitado a governar por decreto, isto é, sem o consentimento das Cortes e apenas apoiado na confiança do Rei. É o que se chama a “ditadura”, embora as liberdades civis não sejam suspensas. Pela sua parte, convencido da necessidade de dar algum rumo aos negócios do Estado, o Rei arriscou muito: a partir de então ficou com todo o mundo político contra si, à excepção dos franquistas. Zé Luciano, em entrevista a O Mundo, no Verão, declarou: «nenhum de nós voltará ao Paço enquanto não estiver restabelecida a normalidade constitucional». Perante a desagregação do partido regenerador após a morte de Hintze no ano passado e o silenciamento dos progressistas com o encerramento das Cortes, a rede maçónica dominada já pelo partido republicano tornou-se no pólo aglutinador da agitação contra o franquismo. Ninguém tinha melhor opção e Alpoim começou a conspirar com os republicanos, ultrapassando Zé Luciano e os progressistas. Esta oposição radicalizada fomentou nos últimos meses do ano todo o tipo de provocações para obrigar Franco a tomar medidas “repressivas” (algumas prisões, encerramento de jornais) e acicatar ódios contra ele e o Rei. Na opinião insuspeita do comissário de administração naval e republicano Machado Santos, em Lisboa no final do ano, conspira-se à vontade e a céu aberto contra o governo e contra o Rei.

BREVES: --- Sebastião de Magalhães Lima: Este livre-pensador e membro da Associação do Registo Civil tornou-se este ano grão-mestre do Grande Oriente Lusitano Unido. A sua eleição assegurou o controle dos republicanos sobre a Maçonaria e, centrando nesse partido a oposição ao franquismo, tornou-o a partir de 1907 naquilo que nunca antes fora: um grupo político relevante. O protagonismo político conseguido a partir de então pelos republicanos explica-se pelo uso que fizeram da rede maçónica e não pela influência eleitoral do partido, que era irrisória. --- Pauta alfandegária: Foi feita nova edição da Pauta Geral das Alfândegas, sem alterações significativas relativamente àquela que estava em vigor desde 1892. Portugal continua a ser um dos países que pratica taxas alfandegárias mais altas sobre as importações. Embora algumas matérias primas e maquinaria não sejam excessivamente taxadas para não prejudicar a indústria nacional, o Estado recolhe a maior parte das suas receitas nas taxas que a Pauta lança sobre alimentos, tecidos e produtos trabalhados em geral. --- Liberdade de associação: As Cortes aprovaram a 14 de Fevereiro uma lei que regula a liberdade de associação sem autorização prévia do poder executivo ou da Administração. --- Greve académica: Em Março, estudantes e docentes de sensibilidade republicana encontraram na contestação a umas provas de doutoramento a ocasião de agitarem a Universidade contra o governo através de uma greve. A 23 de Maio o Governo mandou encerrar as matrículas e considerar apenas admitidos a exame os naturais de Coimbra. --- Novo periódico: Começou a publicar-se, a 1 de Maio, o jornal A Luta do republicano Brito Camacho. Neste ano, só a imprensa diária de Lisboa, tem uma tiragem total que ronda os 300 mil exemplares. --- Hintze: Faleceu a 1 de Agosto o Sr. Hintze Ribeiro.

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