quinta-feira, julho 21, 2005

Século XX (n.º 21): O ano de 1920


DESTAQUE: O pós guerra trouxe uma mudança de atitudes, gostos e hábitos culturais que também chegou a Portugal, desde logo entre as mulheres. As mudanças na moda feminina desta época, com cabelos curtos e saias pelo joelho, tinham um significado evidente de afirmação pessoal e de maior protagonismo. As coisas teriam ido mais longe se a sociedade fosse mais afluente.

ESTE ANO: A realização de mais um Censo da população neste ano de 1920 permite-nos perceber de onde vem e para onde vai o País no princípio da terceira década do século XX. Relativamente a 1900 e apesar da forte emigração, a população deu um salto de meio milhão, sendo agora os Portugueses residentes na pátria um pouco mais de seis milhões. Se se tiver em consideração que o crescimento anual dos produtos industrial e agrícola nestes vinte anos andou à volta de 1%, percebe-se que é dividido por cada vez mais gente um bolo que cresce pouco. Também se pode imaginar no que se teria transformado a vida social do País se a forte corrente de emigração não tivesse acelerado na última década. A população de Lisboa passou, no mesmo período, de 356 mil habitantes para 486 mil. Esta “pressão demográfica” constante que se observa na capital não é certamente indiferente à agitação que nela se vive desde os finais do século anterior. Das outras cidades maiores, o Porto e Setúbal conheceram um crescimento considerável, subindo as suas populações de 168 mil e 19 mil em 1900 para 203 mil e 31 mil respectivamente. A cidade de Setúbal, aliás, tornara-se já em 1911 a terceira cidade mais populosa, batendo Braga. A população activa mantém uma forte dependência da agricultura, que no entanto tendeu a diminuir. Os dados de 1911 (que não estão disponíveis para 1920) deixam ver um reforço muito substancial da indústria relativamente a 1900: de 455 mil para 548 mil pessoas empregadas nesse sector da economia. Mas, daqui a uma década, em 1930, esse número de 1911 cairá para 468 mil, indiciando que o período da I República não foi fértil em crescimento de emprego industrial, levando-o para números próximos dos do início do século. Por seu lado, os serviços empregavam em 1900 cerca de 468 mil pessoas e em 1911 já cerca de 526 mil, vindo a empregar em 1930 cerca de 761 mil. Deste modo, o recuo do número de pessoas dependentes da agricultura fez-se aparentemente mais com o crescimento do sector terciário, uma parte do qual com a concorrência do aumento do emprego público (que, entre pessoal civil e militar, subiu de 54.339 em 1911 para 88.215 em 1930). Apesar da taxa de analfabetismo ter recuado para 66.2%, o produto interno bruto per capita, que se situava em 1910 em cerca de 170 escudos de 1914, situa-se em 103 escudos em 1920.

BREVES: --- Dança no poder: A instabilidade governamental vai ser uma constante este ano. A 21 de Janeiro, toma posse o gabinete de Domingos Pereira; a 8 de Março o de António Maria Baptista; a 6 de Junho o de Ramos Preto; a 26 de Junho o de António Maria da Silva; a 19 de Julho o de António Granjo; a 20 de Novembro o de Álvaro de Castro; e a 29 de Novembro o de Liberato Pinto. --- Operários: A continuação da inflação no pós-guerra mantém a subida de preços dos bens essenciais, que afecta o nível de vida dos operários. Estes não darão, por isso, tréguas aos governos da República, mantendo a onda protestatária e grevista desde Janeiro e Fevereiro um pouco por todo o lado. Durante a greve geral de Junho de 1919 a União Operária Nacional fora dissolvida pelo Governo, reconstituindo-se a 13 de Setembro no II Congresso Nacional Operário, com a designação de Confederação Geral dos Trabalhadores. Neste processo, o movimento operário deu mais uma guinada no sentido da radicalização, com uma adesão mais explícita aos ideais anarquistas. Em Março de 1920, com o reinício das greves (ferroviários, C.T.T., Tabacos), a central sindical volta a ser encerrada pelo Governo no dia 20 mas é reaberta a 28 de Abril. --- Reconstituintes: Álvaro de Castro deixa os democráticos e funda um novo partido a 2 de Abril. --- Pão: O aumento do preço do pão por decreto a 7 de Setembro provoca nova onda grevista e assaltos a padarias.

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