quinta-feira, julho 21, 2005

Século XX (n.º 15): O ano de 1914


DESTAQUE: Em Abril, com a revista “Nação Portuguesa”, António Sardinha (na fotografia), Alberto Monsaraz e Luís de Almeida lançaram uma nova ideologia “tradicionalista” para combater a República e separar a ideia monárquica da sua herança liberal. Vieram a originar uma corrente monárquica que pouco tinha a ver com a monarquia como existira em Portugal até 1910.

ESTE ANO: Em Março esteve reunido em Tomar um importante congresso operário. Nele realizou-se a unidade das várias correntes do movimento operário português. Este movimento está a tornar-se numericamente muito importante, podendo actualmente reclamar a adesão de perto de cem mil trabalhadores. O movimento sindical remonta à fundação em 1878 do Partido dos Operários Socialistas de Portugal que fundiu o Partido Socialista de 1875 com grupos sindicais da Associação dos Trabalhadores. Mas o partido foi-se desagregando com o aparecimento a partir de 1880 de algumas associações sindicais que se reclamavam do anarquismo e com a cisão de Azedo Gneco em 1895 que originou o Partido Socialista Português. Por essa altura, os republicanos começaram também a atrair parte do movimento para as suas fileiras. Em 1907, os dois partidos socialistas voltaram a unir-se cumprindo a recomendação do congresso socialista de Amsterdão mas deixavam de fora os grupos anarquistas e republicanos. Depois de 1910, a República veio clarificar a posição política das várias correntes e aproximá-las: os sindicatos perdem muito cedo as esperanças no novo regime e lançam-se numa onda grevista que ainda levantou dúvidas entre os velhos socialistas. Mas todos julgam agora necessária uma tomada de posição perante Afonso Costa (denominado “racha-sindicalistas”) e a sua política. Os 103 sindicatos e 7 federações representados no congresso de Tomar criaram, com esse propósito, uma única central sindical, a União Operária Nacional, que pretende ser o chapéu-de-chuva do movimento operário português. As ideias da União são propositadamente ecléticas. Segundo as resoluções do congresso, «o sindicato abre as suas portas a quantos vejam nele o reduto de onde possam, corajosamente, afrontar a tempestade capitalista-estatal, exigindo uma só condição: o ser assalariado de determinada profissão». As tácticas a adoptar pelos sindicatos nas lutas laborais são deixadas em aberto, entre o legalismo e a revolução mas esta flexibilidade necessária não esconde a crescente radicalização dos sindicatos e a influência neles ascendente das ideias anarquistas. Afonso Costa, que para unir a sua base de apoio definiu um inimigo à sua direita (o “clericalismo”), conseguiu formar um outro, à sua esquerda: um movimento operário unido.

BREVES: --- Novo governo: Na sequência dos incidentes de Janeiro entre apoiantes de Afonso Costa e Machado Santos e da greve ferroviária do mesmo mês, é nomeado um novo governo a 9 de Fevereiro. Presidido por Bernardino Machado numa base conciliatória (a 22 de Fevereiro amnistia sindicalistas, católicos e franquistas), só durará até Junho. A 23 desse mês Bernardino formará outro governo, desta vez “extra-partidário”. A 12 de Dezembro, toma posse um novo gabinete, dito de "Os Miseráveis" porque presidido por Vítor Hugo Azevedo Coutinho; este cairá poucos dias depois, a 25 de Janeiro de 1915. --- Zé Luciano: Faleceu a 9 de Março o líder do antigo partido progressista, retirado da política desde 1910. --- Guerra: A 12 de Agosto é decretada a organização e envio de forças militares para Angola e Moçambique e assinado o Tratado de Comércio e Navegação Luso-Britânico. As tropas partem a 11 de Setembro para prevenirem a ameaça alemã às nossas possessões. Portugal ainda se mantém à margem da I Grande Guerra (iniciada no Verão de 1914) mas começa já a alinhar-se com a Inglaterra. --- Maçonaria: O Grande Oriente Lusitano Unido sofre a 20 de Outubro a cisão da Loja Pátria e Liberdade. É o início da contestação à hegemonia dos democráticos de Afonso Costa no meio maçónico e o fim da unidade da maçonaria garantida desde 1869.

Voltar ao Índice.