sexta-feira, julho 29, 2005
Século XX (n.º 43): O ano de 1942
DESTAQUE: Na embaixada portuguesa no Rio de Janeiro, a 13 de Outubro, contraíram matrimónio D. Duarte Nuno de Bragança (na fotografia) e D. Maria Francisca de Orléans e Bragança (de quem foi madrinha a rainha D. Amélia). O casamento sela a unidade entre os braços da Casa de Bragança descendentes de D. Pedro e de D. Miguel.
ESTE ANO: A posição económica de Portugal, enquanto país neutro numa Europa em guerra, colocou-o numa situação muito delicada. A Inglaterra e a Alemanha pretendem levantar um bloqueio económico uma à outra e toleram mal as veleidades portuguesas de convivência com os dois lados (relações comerciais bilaterais, facilitação do contrabando, venda de volfrâmio). A partir de Janeiro de 1941, os Ingleses impõem a Portugal um esquema de fiscalização das actividades comerciais do País com o fim de impedirem as reexportações e limitarem as exportações para a Alemanha, enquanto esta lança alguns ataques à frota mercante e pesqueira portuguesa. O Governo, como medida preventiva, prefere limitar fortemente as acções de propaganda de anglófilos e germanófilos junto da opinião portuguesa num momento em que, um tanto oportunisticamente, se sente um balançar dessa opinião para o lado alemão. Dentro do regime, nomeadamente na Legião, a guerra dos Alemães contra a União Soviética cria mais adeptos de uma colaboração com os nazis. Por seu lado, os serviços especiais ingleses provocam um conflito diplomático quando recrutam em Portugal elementos oposicionistas para levarem a cabo operações de propaganda e sabotagem (esta rede é desmantelada pela P.V.D.E. em 1942). Salazar, apesar de manter as exportações para a Alemanha contra a vontade inglesa, facilitava muito mais os fornecimentos à Inglaterra, a qual acumulará (com a boa vontade do Governo e o financiamento do Banco de Portugal) uma dívida de 80 milhões de libras ao nosso País até ao fim do conflito. Durante todo o ano de 1941 a situação interna em Portugal começa a degradar-se com a crescente falta de alimentos importados e combustíveis e o ano de 1942 é já de quase ruptura quando os Americanos se associam ao controle exercido pelos Ingleses sobre as nossas actividades comerciais. Salazar vê nestas dificuldades e na já aparente viragem do conflito a favor dos anglo-americanos motivos suficientes para começar a deixar a posição portuguesa deslizar para o lado dos Aliados: em 23 e 28 de Novembro Portugal celebra com os anglo-americanos um Acordo de Fornecimento e Compras e um Acordo Comercial de Guerra. Salazar consegue, em troca de uma aceitação formal de algumas condições, maiores facilidades de importação de alimentos e combustíveis (que começam também a ser racionados pelo Governo).
BREVES: --- Plebiscito III: O general Carmona, novamente candidato único ao cargo que já ocupa, é reeleito presidente da República a 8 de Fevereiro. --- Mais greves: Em Outubro e Novembro começa um movimento grevista na Companhia Carris de Ferro de Lisboa que se estende à construção naval, aos portos e às instalações da C.U.F. no Barreiro. Os motivos da greve eram a subida do custo de vida, a escassez de bens essenciais e o tabelamento dos salários decretado pelo Governo. As irregularidades e alegada corrupção dos mecanismos de racionamento de bens essenciais eram outros motivos invocados. A 5 de Novembro, o Governo responsabilizará pelos acontecimentos «agitadores profissionais a soldo de Moscovo». --- Assembleia Nacional: Foi plebiscitada a 1 de Novembro a lista única de candidatos a deputados, apresentada pela U.N. --- Socialistas: Em Dezembro é fundado o Núcleo de Doutrina e Acção Socialista em Lisboa e no Porto.
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