quinta-feira, julho 21, 2005

Século XX (n.º 16): O ano de 1915


DESTAQUE: A revista "Orpheu". Em Março e Julho aparecem os dois números desta publicação que anuncia as novas estrelas do firmamento literário português do século XX: José de Almada Negreiros, Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa. Num meio em que pululam os intelectuais à procura de audiência, apresentam-se com uma atitude provocadora que surtirá o efeito desejado.

ESTE ANO: No princípio do ano, algumas prisões de oficiais do Exército acusados de envolvimento numa projectada insurreição conduziu rapidamente a uma onda de protestos militares a que a oposição evolucionista e unionista se atrelou. Amedrontado, o presidente Arriaga entregou um governo com poderes ditatoriais ao general Pimenta de Castro (25 de Janeiro). Entre os democráticos, os mais exaltados prepararam-se para a luta. O nervosismo de todos explicava-se pelas eleições iminentes, que Pimenta adiou e todos queriam preparar na secretaria. A 4 de Março, os deputados do partido democrático são impedidos de entrar no parlamento, que é dissolvido. Afonso Costa declara então o governo e o presidente fora da lei. As manifestações e tumultos contra a carestia de vida são um perturbante pano de fundo, cada vez mais ruidoso, sob estas lutas políticas que poucos entendem. Entretanto, em Abril, Pimenta de Castro começa a dissolver várias câmaras municipais dominadas pelos democráticos e a substituí-las por comissões administrativas governamentais. Em Maio, os democráticos mobilizam os seus apoios e iniciam uma onda de agitação que evolui para desacatos e violência com as forças da ordem, tentando impedir a posse de algumas das comissões administrativas. No dia 14, a carbonária e a Marinha sublevada a favor dos democráticos lançam uma violenta ofensiva contra os apoiantes do governo, que provoca em Lisboa centenas de mortos e feridos. Alguns barcos de guerra, sob o comando de Leote do Rego, disparam mesmo as suas baterias contra zonas da capital. O grupo de oficiais do Exército afectos aos democráticos (a chamada “Jovem Turquia” de Álvaro de Castro) entra também na contenda. Pimenta de Castro entrega o poder e, logo a 15 de Maio, os democráticos controlam novamente o governo. A 17, o democrático José de Castro chefia um novo gabinete que organiza eleições. A 29 de Maio, outro democrático, Teófilo Braga, substitui Arriaga na presidência. O grande objectivo dos adversários de Afonso Costa – preparar eleições controlando o governo – falha redondamente. A 18 de Junho, depois da vitória eleitoral democrática, José de Castro é reconduzido na chefia do executivo.

BREVES: --- Trabalho: A 22 de Janeiro um decreto estabelece os limites de horas diárias de trabalho: 7 para escriturários e bancários, 8 a 10 para operários, 10 para lojistas e com duas horas de intervalo para almoço. --- Carestia de vida: A 25 de Janeiro, a União Operária Nacional divulga circular sobre este assunto. É a luz verde para novos protestos e greves. --- Lei eleitoral: A 1 de Julho é revista a lei de 1913 só para redesenhar os círculos eleitorais e dar direito de voto aos militares no activo. --- Susto: A 3 de Julho, Afonso Costa atira-se de um eléctrico receando um ataque bombista e faz um traumatismo craniano que o impede de regressar imediatamente ao poder. Após um período de restabelecimento, sucede a 29 de Novembro a José de Castro na chefia do governo. A 6 de Agosto, depois de Teófilo Braga terminar o mandato para que fora eleito Arriaga, Bernardino Machado é eleito presidente da República pelos seus correligionários democráticos. De acordo com a Constituição de 1911, o chefe do Estado era escolhido pelos deputados e senadores. --- Endividamento: A instabilidade política do último ano e o esforço de defesa no ultramar levam a um novo descontrole da despesa pública. O governo lança a 4 de Agosto dois empréstimos para acudir às necessidades do Tesouro.

Voltar ao Índice.