segunda-feira, julho 18, 2005

Século XX (VI): O ano de 1905


ESTE ANO: A economia portuguesa está a conhecer mudanças importantes neste princípio do século. No âmbito da tecnologia, a grande alteração que está a ocorrer este ano é a consolidação do uso da electricidade, que começa a substituir a energia obtida através da tecnologia do vapor, crescentemente obsoleta. A iluminação e os transportes públicos lideram a adopção da electricidade mas algumas unidades industriais começam já a tentar pôr de parte os motores a vapor e utilizar os motores eléctricos. Não havendo ainda centrais eléctricas nem rede distribuidora de electricidade, esta tem de ser usada a partir de geradores, normalmente de tipo térmico. Isto implica dependência do carvão importado e, portanto caro, porque as receitas ordinárias do Estado dependem sobretudo das taxas lançadas sobre as importações. Este factor explica em boa medida por que razão as novas tecnologias não são imediatamente adoptadas e vulgarizadas em Portugal: o seu processo de importação é encarecido pelos impostos, os ganhos decorrentes do seu uso são encurtados e é preciso esperar que os preços das novas tecnologias vão baixando na origem. No âmbito das indústrias de maior dimensão em termos de investimentos e número de operários, os sectores mais importantes no País continuam a ser o têxtil, o corticeiro e o das conservas de peixe. O primeiro, no qual o subsector do algodão é particularmente dinâmico, está voltado essencialmente para o mercado interno e para as colónias, sendo ferozmente proteccionista. De facto, a pauta alfandegária protege particular e tradicionalmente esse sector da indústria, reservando-lhe o mercado português e erradicando a concorrência externa, da qual quase só chegam produtos de luxo para poucas bolsas. Quanto à cortiça e às conservas de peixe são casos únicos de actividade exportadora da nossa indústria. A Companhia União Fabril, de Alfredo da Silva, que tem vindo a fabricar óleos, sabões e velas, prepara-se entretanto para introduzir a indústria química entre nós, explorando sobretudo o mercado dos adubos químicos para a agricultura. Mas apesar de introduzir novas produções, a C.U.F. está tão virada para o mercado interno como a generalidade da indústria portuguesa.

BREVES: --- Adensa-se a crise: A 25 de Agosto, num duelo verbal na Câmara dos Pares, consumou-se a ruptura entre os progressistas José Luciano de Castro e José de Alpoim. Este subtraiu à maioria progressista obtida nas eleições de Fevereiro 21 deputados dissidentes, que se somam aos 32 regeneradores, 4 independentes, 3 franquistas e 2 nacionalistas. O Governo e Zé Luciano contam com uma maioria de 86 deputados, desfalcada e desmoralizada. Em Setembro, para poupar o Governo a dificuldades, o Rei suspende as Cortes até princípios de 1906. --- Reforma do Ensino: Foi promulgada a 29 de Agosto a reforma do Ensino Secundário pelo ministro Eduardo José Coelho. Passa a existir um equilíbrio entre o número de disciplinas de Letras e Ciências no curso geral, sendo o Francês a língua estrangeira de base. A partir do 2.º ano, os alunos deverão poder optar entre o Inglês e o Alemão e o número de horas semanais baixou para 26 no curso geral e 22 nos cursos complementares. Existem no Reino 5220 escolas primárias oficiais e 34 liceus. O ensino é nestas escolas para ambos os sexos. --- Código Comercial: Foi promulgada a segunda revisão do Código Comercial; o código é de 1834 e já fora revisto em 1886. --- Linha férrea: Terminado o troço Estremoz-Vila Viçosa.

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