sexta-feira, julho 29, 2005

Século XX (n.º 35): O ano de 1934


ESTE ANO: Após a monopolização da actividade política na estrutura da U.N., o novo regime avançou, com a legislação de Setembro do ano passado, para a monopolização das actividades sindicais. É este facto que explica que os sindicalistas da C.G.T. e os militantes do P.C.P. se tenham mobilizado no princípio deste ano para levarem a cabo uma tentativa de sublevação. Até aqui estas organizações tinham meramente alinhado em todas as revoltas conduzidas pelos sectores civis e militares das antigas estruturas partidárias da I República que haviam sido preteridas ou não se quiseram integrar na ditadura. Aliás, a sucessiva derrota desses movimentos foi conduzindo a uma depuração do espectro político civil e militar, dando um peso cada vez maior aos sectores apoiantes da ditadura no universo da política activa: entre 1926 e 1939, terão sido presos por razões políticas mais de 11.500 indivíduos, deportados mais de 1.500, mortos (sobretudo em combate) mais de 200 e feridos cerca de 1000. O sobrevivente sector civil dissidente, composto de algumas personalidades da I República (conhecido como reviralho), foi-se assim marginalizando, enquanto a ilegalização definitiva dos sindicatos livres desferiu um golpe mortal à C.G.T. A 18 de Janeiro, a tentativa de greve geral levada a cabo pretendia resistir à nova legislação, mas a dura repressão de que foi alvo acabou por desmembrar todo o movimento operário anarco-sindicalista organizado na C.G.T. Tratou-se de mais um efeito de “depuração” provocado pelas revoltas contra o governo de Salazar, que afectou também a velha estrutura político-sindical socialista. O efeito a longo prazo destes acontecimentos será a adopção, pelo reviralho, de uma estratégia insurreccional mais discreta e cautelosa e a hegemonização do sector revolucionário político e sindical pelo P.C.P., cuja estrutura clandestina conseguiu sobreviver. Da derrota destas rebeliões saiu também um reforço da base de apoio do novo regime entre as classes médias, já que estas não viam nos revoltosos nem um projecto político claro nem garantias contra o regresso da “desordem” quase universalmente odiada. Esse estado de espírito permitiu a Salazar apresentar-se como a única alternativa ao ambiente político do final da Monarquia e da I República.

BREVES: --- Esvaziamento: A 28 de Janeiro é lançada a Acção Escolar Vanguarda na órbita do regime, visando enquadrar politicamente a juventude e esvaziar o Nacional-Sindicalismo na frente estudantil. Esta organização e a Liga 28 de Maio serão as rampas de lançamento das futuras Mocidade e Legião Portuguesas. --- Cisão: Em Fevereiro consuma-se a divisão no Nacional-Sindicalismo, com a adesão de uma facção sua ao Estado Novo, que começa a publicar o jornal Revolução Nacional a 1 de Março. A 12 e 29 de Julho são detidos e exilados os dois principais dirigentes do Nacional-Sindicalismo, Rolão Preto e Alberto Monsaraz. O movimento é definitivamente ilegalizado e perseguido. --- O primeiro: A 26 de Maio realiza-se o I Congresso da União Nacional, que marca o seu “arranque” definitivo. A 16 de Dezembro, realizam-se as primeiras eleições para a Assembleia Nacional a que só podem concorrer os candidatos da U.N. Os 90 deputados são eleitos por um absurdo círculo único que integra toda a metrópole e ultramar. --- No Porto: Em Junho, na Cidade Invicta, é inaugurada a I Exposição Colonial Portuguesa cujo comissário-geral é o capitão Henrique Galvão, futuro conspirador contra Salazar no pós-guerra. --- Cunhal eleito: O dirigente comunista e estudante de Direito Álvaro Cunhal é eleito representante dos estudantes no Senado da Universidade de Lisboa.

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