terça-feira, julho 26, 2005
Século XX (n.º 33): O ano de 1932
DESTAQUE: A 2 de Julho, em Twickenham (Inglaterra), D. Manuel II morreu sem deixar descendentes. A 2 de Agosto o corpo do Rei é solenemente trasladado para o panteão real em S. Vicente de Fora (Lisboa), cerimónia com a qual Salazar quer agradar aos monárquicos. A nacionalidade alemã e brasileira dos seus parentes mais próximos faz os direitos dinásticos passarem para o ramo dos Braganças que por mais tempo preservaram a nacionalidade portuguesa: o dos descendentes de D. Miguel exilados na Áustria. Assim, na pessoa de D. Duarte Nuno, todas as correntes monárquicas (constitucionais, miguelistas, integralistas) passam a convergir num único pretendente à coroa.
ESTE ANO: Depois da nomeação do doutor Salazar como presidente do conselho de ministros, a 5 de Julho, substituindo o general Domingos de Oliveira, o engenheiro Duarte Pacheco parece ter visto reforçada a sua posição no governo. Com 33 anos, Duarte Pacheco era presidente do Instituto Superior Técnico desde 1924, tendo-se tornado presidente da Câmara Municipal de Lisboa em 1928 e pouco depois ministro da Instrução. Agora, permanecendo no primeiro governo da ditadura chefiado por Salazar, passou a ser o responsável pela pasta das Obras Públicas e Comunicações. A acção de Duarte Pacheco neste ministério vem de certa forma complementar as recentes iniciativas económicas da ditadura relativas à agricultura e à indústria. O ministro pretende alcançar essencialmente dois objectivos: melhoria das infra-estruturas sobretudo ligadas à área dos transportes, comunicações e energia e absorção do desemprego. Com esse propósito, decidiu que as verbas do Fundo de Desemprego passarão a ser aplicadas em programas de obras públicas, consistindo estas sobretudo no aumento e reconstrução da rede de estradas. Já existe um organismo para esse efeito, criado em 1927, a Junta Autónoma de Estradas, mas que só agora começa a ter condições financeiras para levar a cabo a sua missão. O aumento da circulação rodoviária nos últimos anos e a importância crescente da camionagem tornavam estas medidas necessárias, tanto mais que os acessos a Lisboa, por exemplo, davam já mostras de grave estrangulamento. Nos próximos anos, será sobretudo na melhoria da rede viária e na construção de edifícios públicos que a acção de Duarte Pacheco se tornará mais visível. O ministro das Obras Públicas, que poderá assim apresentar “obra feita” de forma mais visível que os outros ministros, tornar-se-á rapidamente um dos trunfos políticos do governo de Salazar e da imagem dinâmica e rigorosa que este quer dar de si mesmo. Ao mesmo tempo, este programa de obras públicas mostra que Portugal está seguindo uma tendência geral neste tempo de políticas de “emprego” através de programas de melhoramentos, visíveis desde a América do New Deal à Alemanha de Hitler e à Rússia estalinista.
BREVES: --- Nacionais-sindicalistas: Começou a publicar-se em Fevereiro o jornal Revolução, órgão do fascista Movimento Nacional-Sindicalista. --- Salazar na presidência: A 24 de Junho, Salazar é nomeado presidente do conselho de ministros, cargo que virá a ocupar até Setembro de 1968. --- Regalista: A 23 de Novembro, a propósito da tomada de posse dos corpos directivos da U.N., Salazar exige a dissolução do partido do Centro Católico Português (do qual fora fundador durante a I República), tornando assim claro que nenhuma força partidária além da U.N. deverá subsistir.
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